* Por Dra. Silvia Queiroz
Psicóloga clínica, especialista em Gestão Estratégica
de Pessoas e Mestre em Teologia
Você já ouviu frases do tipo “meninos não choram” ou “sentimentalismo é coisa de gente fresca”? Ou já viu mamães e papais que ao repreenderem seus filhos por algo errado, terminaram mandando a criança “engolir o choro”. Pois bem, se você conhece casos assim, então você já se deparou com algum tipo de invalidação emocional.
A invalidação emocional acontece quando sentimentos e emoções de uma pessoa são embargados por outros, que fazem julgamentos e tratam essa manifestação emocional como incorreta, descabida, inadequada. A pessoa que sente o que sente passa a desmerecer e talvez até desacreditar de suas emoções, reprimindo-as, o que acarreta numa dificuldade posterior para lidar com as mesmas. Por isso, muitos não sabem administrar as sensações e sentimentos quando estas ocorrem.
Muitas vezes as pessoas invalidam emocionalmente sem querer e sem ter a intenção de fazer isso. Quando dizemos coisas parecidas com “você não precisa ter medo” estamos de algum modo negando algo que está acontecendo e que precisa ser acolhido. Alguns pais reforçam a invalidação com a melhor das intenções, quando dizem coisas do tipo “viu, não precisava ter tido medo” após uma situação vivida pela criança com a presença do medo. Dizer isso pode ser lido pela criança como “o que você sentiu não era necessário ou adequado” e isso causa confusão em sua mente, já que independentemente de qualquer ajustamento ou não ela sentiu o medo.
Geralmente a invalidação emocional provoca marcas mais importantes na infância e na juventude. A criança e o adolescente estão descobrindo o mundo e a si mesmos e ter pessoas de extrema importância em suas vidas, como os pais, dizendo que o que sentem não é real, necessário, certo ou oportuno, leva a muita confusão mental, problemas com a autoafirmação e, em casos mais sérios, transtornos de personalidade.
Imagine uma criança que está aprendendo a lidar com seu mundo interior e que não sabe ainda nomear bem suas sensações. Agora imagine se um desses pequeninos estivesse sentindo fome e, ao expressar essa necessidade para os pais/cuidadores, alguém dissesse algo do tipo “você não deve sentir isso, é bobagem e frescura, você já comeu há dez horas”. Uma pessoa que sente a fome, está conectada com a sensação que acontece dentro dela e se outro invalida essa experiência interna, a criança pode ficar confusa e desacreditada de que seja capaz de sentir e expressar o que ocorre nela mesma.
Com as emoções não é diferente. Crianças são mais sensíveis e estão aprendendo a lidar com tudo o que ocorre em suas mentes e corações. Se ela chora e o adulto ao seu lado não demonstra interesse nos motivos que a levaram a se sentir assim ou não acolhe suas sensações, a criança desenvolve maneiras (por vezes desadaptativas) de lidar com suas emoções.
Estudos têm mostrado a relação existente entre a invalidação emocional na infância e o desenvolvimento de transtorno de personalidade histriônica, borderline, narcisista e antissocial (Custer B), por exemplo. O vazio emocional, a sensação de abandono, a postura rígida e os relacionamentos pessoais conturbados típicos destes transtornos, podem ser provenientes de experiências de invalidação na infância, entre outros motivos.
Todos nós precisamos sentir acolhimento, que somos amados e compreendidos, até mesmo (e talvez mais ainda) quando erramos. Não que tenhamos que concordar com os erros das pessoas, mas acolher seus sentimentos diante de dadas circunstancias. Por exemplo, não devemos aceitar a birra de uma criança que não está aceitando algum limite. Mas, precisamos entender que ela está frustrada e chateada. Fazê-la não sentir isso por conta do comportamento inadequado que está tendo, seria uma invalidação emocional.
O grande desafio é poder ajudar a pessoa a sentir, mostrar que compreende suas sensações mesmo que precise e deva mudar algum comportamento. Quando agimos dessa maneira, permitimos que os pequenos, e até adultos, a nossa volta lidem melhor com a vida emocional, encontrando as estratégias adequadas de comportamento.
Mas, se por outro lado falhamos nessa missão, podemos favorecer dificuldades emocionais e relacionais significativas que acompanharão a pessoa vida à fora.
* Silvia Queiroz é psicóloga clínica, especialista em Gestão Estratégica de Pessoas, Mestre em Teologia, coach e analista DISC pela SLAC, escritora, palestrante e membro Toastmasters Internacional. www.silviaqueiroz.com.br
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