A Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), unidade vinculada à Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), foi selecionada para participar do projeto “Saúde em Nossas Mãos: Melhorando a Segurança do Paciente em Larga Escala no Brasil”, do Ministério da Saúde (MS).
Durante dois anos, as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de 204 hospitais selecionados em todo o Brasil serão acompanhadas por unidades de saúde que integram o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi/SUS), consideradas de excelência no país – sendo elas o Hospital Sírio-Libanês, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Moinhos de Vento, Hospital da Beneficência Portuguesa, Hospital do Coração e Hospital Alemão Oswaldo Cruz –, além de representantes do MS.
O objetivo é implantar ou aprimorar medidas voltadas à segurança do paciente, como o atendimento ao paciente com maior segurança; evitar infecções no ambiente hospitalar; e evitar desperdícios no Sistema Único de Saúde (SUS).
Na última segunda-feira (30/08), uma reunião on-line com o Ministério e representantes dos 204 hospitais marcou o início do projeto. No Amazonas, além da FCecon, o Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio, o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) e o Hospital Delphina Aziz participam do “Saúde em Nossas Mãos”.
Treinamento e suporte
Na Fundação Cecon, estão ligados ao projeto os profissionais de saúde da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) e as equipes multiprofissionais que atuam nas UTIs adulto e pediátrica.
Ao longo de dois anos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas e médicos receberão capacitações e treinamentos presenciais e virtuais realizados pelo Hospital Sírio-Libanês, que dará suporte técnico à FCecon durante a execução do projeto.
Relatórios mensais auxiliarão no controle de indicadores de segurança do paciente. “Serão estipulados metas e prazos para alcançarmos. Cada hospital terá as suas, mas uma das metas gerais é reduzir em 30% as infecções hospitalares em dois anos”, disse a responsável pela CCIH/FCecon, enfermeira Glauciane Neves.
Intercâmbio
Na avaliação da coordenadora de enfermagem da UTI adulto da FCecon, enfermeira intensivista Simone Gaynett, a participação no projeto é uma oportunidade para aprimorar processos dentro da unidade e troca de informações com profissionais de outros hospitais.
“Com toda a equipe unida e focada nas melhorias dos protocolos propostos pelo Ministério da Saúde, iremos buscar alcançar as metas. É muito benéfica para toda a equipe multiprofissional a participação no projeto com intercâmbio com outro hospital”, disse a coordenadora.
Os primeiros treinamentos devem ocorrer já no mês de setembro.
Os avanços da ciência têm proporcionado respostas para diversos males que afligem a população. Nessa pandemia, por exemplo, a agilidade dos cientistas na produção de uma vacina para combater o novo coronavírus superou as expectativas. Os resultados podem trazer alento às pessoas que enfrentam a Covid-19.
Nos próximos anos, a ciência deve continuar oferecendo importantes respostas para as doenças que devemos enfrentar num futuro bem próximo. O envelhecimento da população trará profundos impactos na saúde. Para o triênio 2020-2022, as estimativas brasileiras apontam o registro de 625 mil novos casos de câncer no período, excluindo os casos de câncer de pele não melanoma.
Para superar esse novo panorama, pesquisadores de todo o mundo têm se lançado na busca de medicamentos e procedimentos capazes de mudar a abordagem de tratamento das pessoas acometidas por diversos tumores. Na área de oncologia, as terapias genéticas vêm se mostrando o melhor caminho pelos cientistas. Elas atuam nas mutações dos genes das células defeituosas para eliminá-las, uma técnica complementar aos métodos tradicionais – quimioterapia, radioterapia ou cirurgia.
Para quem considera que esses procedimentos ainda estão distantes da nossa realidade, vale ressaltar que o Brasil segue a tendência mundial na busca do tratamento contra o câncer e estudos pioneiros, como os iniciados na Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), vão sequenciar o código genético de pessoas não fumantes acometidas por câncer de pulmão. A proposta da pesquisa é identificar os fatores de risco dessa população e apontar os tratamentos mais adequados para muitos casos da doença, com medicamentos que ofereçam maior poder de precisão e menores efeitos colaterais. Denominados de terapias-alvo, esses tratamentos atuam diretamente nas moléculas indispensáveis para as atividades das células cancerígenas, freando a sua expansão.
A ciência e os pacientes também comemoram os bons resultados da imunoterapia, uma técnica que estimula as próprias células de defesa contra o câncer. A escolha do melhor procedimento depende de uma avaliação minuciosa da saúde de cada paciente, realizada por meio de exames clínicos, entre outros processos. Esse método estimula o sistema imunológico no combate às células cancerígenas, bloqueando as engrenagens que elas usam para enganar as defesas com a liberação de proteínas, que se encaixam em receptores dos linfócitos T. Com a técnica, eles identificam e ordenam que outras células destruam os patógenos, que são agentes infecciosos.
Os cientistas já conseguem inclusive fazer a mutação em laboratório dos linfócitos T. Essa alteração ajuda a estimular no reconhecimento das células tumorais quando eles são reintroduzidos no paciente. A dificuldade do tratamento é identificar as alterações precisas que permitam ser aplicadas como alvos, pois o câncer é uma doença multifatorial e de mecanismos moleculares complexos, que se relacionam entre si para manter a célula maligna atuante.
As descobertas trazem vantagens como a redução significativa dos efeitos colaterais dos métodos tradicionais, como a quimioterapia. O sucesso dessas novas técnicas já permite vislumbrar, num horizonte de curto e médio prazos, a abordagem do câncer como uma doença crônica, mas ao mesmo tempo controlável quando bem acompanhada, assim como hoje ocorre com a hipertensão ou a diabetes. Os novos passos da ciência na área de oncologia reforçam nosso otimismo de que a cura para muitas doenças não é apenas um sonho.
(*) Ramon Andrade de Mello, médico oncologista, professor da disciplina de oncologia clínica da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), da Uninove (Universidade Nove de Julho) e da Escola de Medicina da Universidade do Algarve (Portugal).
Uma área desmatada de pelo menos 4.500 quilômetros quadrados na Amazônia, equivalente a três vezes o município de São Paulo, está pronta para queimar. Resultado da soma do que foi derrubado no ano passado e nos primeiros quatro meses desse ano, e ainda não queimado, essa vegetação no chão pode virar fumaça com a estação seca que começa em junho em mais uma temporada de fogo intensa como observamos em 2019. Se isso ocorrer, o número de internações por problemas respiratórios pode aumentar expressivamente, pressionando ainda mais o sistema de saúde da região, já duramente afetado pela covid-19.
O alerta foi dado nesta segunda-feira (8/6) em uma nota técnica divulgada pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam). Pelos cálculos dos cientistas, se o ritmo acelerado de desmatamento continuar nos próximos meses, quase 9 mil km2 poderão virar cinzas, já que a época mais intensa de derrubada e queima se inicia agora, com a chegada do período seco na região.
“Coibir as queimadas e o desmatamento neste ano, além de uma ação de proteção ambiental, é também uma medida de saúde”, afirma o autor principal da nota, o pesquisador Paulo Moutinho, do Ipam. A preocupação reflete os dados do ano passado, quando os municípios que mais queimaram na Amazônia viram o ar ficar 53% mais poluído, em média, em relação a 2018. Moutinho ainda pondera que “uma não ação dos poderes públicos na prevenção do desmatamento e das queimadas poderá representar perdas de vidas humanas para além das previstas com a pandemia”. “Precaução é a palavra chave agora”, conclui.
Normalmente, anos assim cheios de fumaça levam centenas de pessoas para postos de saúde e hospitais da região. Se isso acontecer em 2020, elas encontrarão leitos ocupados por infectados pelo coronavírus.
“Durante a temporada de fogo, extensas áreas da Amazônia tem qualidade do ar pior que no centro da cidade de São Paulo devido às queimadas. Isso tem forte efeito na saúde, especialmente em crianças e idosos, que são as populações mais vulneráveis”, explicou o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo, que colaborou com o trabalho. “Como a poluição das queimadas viaja por milhares de quilômetros, comunidades isoladas de índios respiram esta atmosfera insalubre, que é muito acima dos padrões de qualidade do ar da Organização Mundial da Saúde.”
Quatro estados concentram 88% da área desmatada e não queimada: Pará (com 42%) dos 4,5 mil km², Mato Grosso (23%), Rondônia (13%) e Amazonas (10%). Olhando com mais cuidado, onze regiões são especialmente preocupantes. Elas devem ser consideradas como prioritárias para ações de comando e controle, especialmente aquelas planejadas pelo governo federal, assim como para o planejamento de atendimento à saúde pelos governos estaduais.
O fogo é o próximo passo no processo de conversão de uma floresta em outro uso da terra, como pasto, explica a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, que também assina a nota técnica. “Por isso, quando temos uma taxa de desmatamento alta na Amazônia, a relação com o aumento de focos de calor é direta. Foi o que vimos acontecer em 2019 e, infelizmente, se nada for feito, é o que deveremos ver em 2020, já que a derrubada continua num ritmo elevado.”
Doze peixes-bois da Amazônia serão reintroduzidos no próximo fim de semana na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus, próximo ao município de Beruri e a 173 quilômetros de Manaus. Esta será a maior soltura de peixes-bois da Amazônia já realizada na história. A ação, que inicia dia 22 e vai até dia 25 de março, é realizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), em parceria com o Projeto Mamíferos Aquáticos da Amazônia e o Museu na Floresta.
O Projeto Mamíferos Aquáticos da Amazônia é patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, e executado pela Associação Amigos do Peixe-boi (Ampa) em parceria com o Projeto Museu na Floresta, uma cooperação com a Universidade de Quioto (Japão).
Os animais que serão devolvidos à natureza foram vítimas de caça ilegal ou captura acidental, explica o responsável pelo Programa de Reintrodução de Peixes-bois, biólogo Diogo de Souza. “Os peixes-bois filhotes resgatados são reabilitados no Inpa em tanques de fibra. Geralmente, eles perdem a mãe para a caça ou são pegos em redes de pesca”, diz Souza, que é mestre em Biologia de Água Doce e Pesca Interior pelo Inpa.
A coordenadora do Projeto, a pesquisadora do Inpa Vera da Silva, alerta que o peixe-boi da Amazônia (Trichechus inunguis) é uma espécie ameaçada de extinção e por isso o Programa de Reintrodução é essencial para a conservação da espécie. “Eles são animais dóceis e com movimentos lentos, por isso acabam sendo alvos para a caça. E para restabelecer a população dessa espécie, que é muito importante para o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos, a Ampa e o Inpa realizam o Programa de Reintrodução de Peixes-Bois há dez anos”, explica a pesquisadora que é doutora pela Universidade de Cambridge.
O Inpa já reintroduziu aos rios da Amazônia 23 peixes-bois. Desde 2016, eles são soltos na RDS Piagaçu-Purus, baixo rio Purus, onde as comunidades dessa unidade de conservação do estado do Amazonas são parceiras do Programa. A última soltura aconteceu em abril de 2018, quando foram reintroduzidos dez animais, cinco machos e cinco fêmeas.
“Nossa ideia é levar de maneira recorde doze animais de uma só vez. O sucesso das solturas passadas com os animais se readaptando muito bem à natureza, nos permitiu acelerar o processo”, ressalta o responsável pelo programa de Reintrodução.
Readaptação à natureza
Após a reabilitação, os animais passam pela etapa de semicativeiro em uma fazenda de piscicultura em Manacapuru durante um ano, antes de serem selecionados para serem soltos na natureza. Já na área de soltura, a várzea da Reserva Piagaçu-Purus, os animais estão aptos para se alimentar sozinhos, explica Souza.
“Eles comem por dia o equivalente a cerca de 10% do seu peso e no cativeiro, em Manaus, são alimentados prioritariamente com vegetais cultivados e capim membeca. Na Reserva, estes animais terão uma diversidade na dieta de mais de 60 espécies de plantas aquáticas”, comenta.
Os animais selecionados têm idade entre três e 16 anos, pesam cerca de 120 quilos e medem em média 2 metros de comprimento. Os resultados clínicos foram satisfatórios e selecionados os doze animais mais aptos para a soltura (sete fêmeas e cinco machos). Os machos são o Terra Nova, Otinga, Piraporã, Manicoré e #183 (ainda sem nome); e as fêmeas Ayara, Poraquequara, Janã, Jaci, Maná, Anibá e Urucará.
Conforme Souza, os animais estão em boas condições de saúde, com peso e tamanho adequados. “Dos 12 animais, cinco receberão os cintos transmissores para monitoramento pós-soltura”, destaca o biólogo, e acrescenta que os outros sete serão soltos diretamente na natureza e não serão monitorados em razão de 100% de sucesso na adaptação dos outros indivíduos que já foram reintroduzidos.
A operação
A equipe sairá da sede do Inpa, em Manaus, na madrugada de sexta-feira (22) e deverá chegar ao amanhecer no lago do semicativeiro, em Manacapuru. Lá, os doze peixes-bois selecionados deverão ser recapturados e retirados do lago um a um e transportados de caminhão até o barco, numa distância de 500 metros.
O barco, ancorado as margens do rio Solimões, estará equipado com três piscinas de fibra para acondicionar os animais durante a viagem, que deverá durar 15 horas até a Reserva Piagaçu-Purus, localizada entre os interflúvios Purus-Madeira e Purus-Juruá.
Durante a viagem, os animais serão monitorados em tempo integral pela equipe do Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LMA/Inpa), para avaliar o comportamento dos animais, verificar a frequência respiratória e troca de água das piscinas.
A chegada dos peixes-bois na Reserva está prevista para a manhã de sábado (23), quando haverá uma atividade de educação ambiental com os moradores das comunidades da reserva para conscientizar sobre a importância da preservação do peixe-boi. À tarde do mesmo dia, a expedição segue para o local de soltura, um lago de várzea na RDS Piagaçu-Purus.
Serão soltos na natureza oito animais no primeiro dia, e outros quatro no segundo dia, e iniciado o monitoramento por radiotelemetria. Após o encerramento das atividades, previsto para a tarde do dia 24 de março (domingo), a equipe retorna para a capital devendo chegar na manhã seguinte (25).
“O maior risco que essa floresta corre é a falta de conhecimento sobre ela”. A afirmação é do pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente do comitê científico do Programa AmazonFACE, David Lapola, durante lançamento do livro “Floresta em risco – as mudanças climáticas destruirão a Floresta Amazônica?”, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC).
A obra do AmazonFACE (Free Air CO2 Enrichiment, sigla em inglês para Enriquecimento por gás carbônico ao ar livre) foi escrita por Lapola e pelo jornalista norte-americano Daniel Grossman, com fotos de João Marcos Rosa e ilustrações de Rogério Lupo. O AmazonFACE é um Programa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) executado pelo Inpa, que busca entender como o funcionamento da floresta amazônica, a maior floresta tropical do mundo, vai responder ao aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases responsáveis pelo efeito estufa na atmosfera.
“É isso [falta de conhecimento] que assola essa floresta, em vista da mudança do clima; é a gente não saber, ter pouca evidência, pouco estudo e ciência em relação à como a floresta amazônica vai se comportar com relação às mudanças climáticas”, disse Lapola, que é ecólogo com doutorado em modelagem do Sistema Terrestre.
Com uma linguagem acessível ao grande público, a obra explica o problema das mudanças climáticas globais, e detalha a abordagem científica do programa AmazonFACE, sua justificativa, métodos e perguntas científicas. O programa é realizado na Estação Experimental de Silvicultura Tropical ZF-2 do Inpa, 50 quilômetros ao norte de Manaus, na rodovia BR-174 (Manaus/AM-Boa Vista/RR).
Para o jornalista americano, o grande desafio na produção do livro foi trazer o conhecimento relacionado ao AmazonFACE e seu desenho experimental, de uma maneira simples para o para o publico. “Isso demandou muita reflexão sobre o texto do livro. Por exemplo: o experimento não vai simular exatamente como será o futuro, vai simular apenas um aspecto que é a mudança de concentração de gás carbônico na atmosfera, e em cima disso o pessoal do AmazonFACE vai incorporar outras informações de como o clima responde em diferentes processos ecológicos da floresta”, explicou Grossman.
A ideia do livro nasceu de uma conversa comum técnico do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) com a equipe do programa, dentro de caminhonete no retorno da visita ao sítio experimental. Na ocasião o técnico sugeriu ao programa investir na divulgação daquele conhecimento para o grande público. A equipe abraçou a ideia e foram produzidos um vídeo sobre o projeto, esse livro publicado agora, e a exposição “Amazônia e Mudanças Climáticas: um futuro em fotos, ilustrações e ciência”, que ficou cinco meses em cartaz, no Paiol da Cultura do Inpa. A proposta é levar a exposição para outras cidades do país, como Campinas (SP) e Brasília (DF).
A obra de 64 páginas teve uma primeira tiragem de 500 exemplares, com distribuição gratuita de 20% durante o lançamento no dia 6 fevereiro para aqueles que se inscreveram. O restante será distribuído para universidades e algumas escolas de ensino médio da região amazônica. A versão e-book do livro está disponível no site do programa AmazonFACE.
Savanização
Este ano a hipótese de savanização da Amazônia completará 20 anos. Ela foi uma das justificativas para a existência do AmazonFACE. Para Lapola, a possibilidade de a floresta amazônica perder 50%, 60% ou até 80% de sua área por causa de mudanças do clima deveria estar deixando os governos dos países amazônicos “de cabelo em pé”, mas não está principalmente por causa das incertezas científicas relacionadas ao possível efeito de fertilização por CO2.
“Então, a floresta está em risco? Está sim, vinte anos se passaram e até hoje o nosso nível de certeza em relação a essa hipótese ainda está ‘no ar’. Por isso destaco a questão das incertezas cientificas, pois quanto mais estudos tivermos, mais vamos reduzir essas incertezas sobre o futuro, e caso um futuro ruim estiver nos aguardando lá na frente, se tivermos um bom nível de conhecimento agora, conseguiremos preparar a sociedade para esse futuro”, alertou o pesquisador.
AmazonFACE
Atualmente o programa tem seu foco em experimentos feitos em arvoretas do sub-bosque da floresta (plantas pequenas de até três metros de altura) em câmeras de topo aberto (uma estrutura metálica com revestimento de polipropileno) de 2,4 metros de diâmetro e 3 metros de altura, que são um passo intermediário para o experimento do tipo “FACE” com árvores adultas, na escala do ecossistema.
A proposta central do programa é construir um aparato experimental de enriquecimento por CO2 ao ar livre, que vai aspergir CO2 na floresta madura por dez anos, por meio de pulverizadores que estarão pendurados em 16 torres de 35 metros de altura, uniformemente espaçadas ao redor do perímetro de cada parcela florestal, para saber como ela reage. Para essa infraestrutura do experimento são necessários pelo menos R$ 6 milhões.
Nos últimos 30 a 40 anos, a temperatura média na Amazônia aumentou em média 0.7°C, um impacto relevante grande. Pelas projeções do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a Amazônia terá um aumento na temperatura de 2°C a 6°C até 2100, um cenário que requer preocupação agora e exige melhores previsões do que pode acontecer, segundo os cientistas.
“Isso vai influenciar a floresta, talvez leve a uma grande mortalidade da floresta. Com o clima mais seco e tudo isso podemos ter perda de floresta, impactos na agricultura, na saúde das pessoas, na geração de energia, impactos socioeconômicos muito grandes”, disse o gerente executivo do AmazonFACE, o pesquisador do Inpa Carlos Alberto Quesada.
O mesmo gás que aumenta a temperatura, o CO2, é a base da fotossíntese. Então, o experimento AmazonFACE busca saber se esse gás, que é o substrato para o funcionamento da floresta, se não vai ter um “lado bom também”, que seria tornar a floresta mais resistente a secas, ajudá-la a crescer mais, ou se a “retenção de água nas plantas diminuiria a evapotranspiração, desacelerando o motor hidrológico de reciclagem das chuvas amazônicas, o que acabaria por realimentar a estiagem”. Se encontrar esse “lado bom”, isso daria uma salvaguarda para todos, dando tempo maior de preparação para lidar com as mudanças e os seus impactos.
“A gente quer fazer um experimento no campo em que simule o aumento numa concentração de CO2 na atmosfera que é prevista para ser alcançada com as emissões de gases de efeito estufa pela humanidade entre 2050 e 2100”, explica Quesada. “Isso vai nos ajudar a tentar entender hoje o impacto que mudanças do clima e a elevação de CO2 terá na floresta do amanhã. Aí a gente vai começar a poder se preparar para evitar o impactos socioeconômicos, ter políticas públicas e tentar reverter esses impactos”, completou.
Financiamento e Apoio
Iniciado em 2011, o AmazonFACE envolve diretamente cerca de 50 pesquisadores, bolsistas e estudantes de várias instituições brasileiras e do exterior, mas o número dobra se contadas todas as colaborações mais pontuais. Até o momento o programa já obteve cerca de R$ 7 milhões, incluindo a primeira fase e o início desta fase 1.5, intermediária entre o início do experimento de larga-escala.
Até o momento o programa já recebeu financiamento do MCTIC, BID, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), Fundação Alemã de Pesquisa (DFG) e Instituto Serrapilheira.
As tempestades de vento são distúrbios que ocorrem naturalmente na Amazônia, porém podem amplificar os impactos na floresta do desmatamento e o fogo. Um artigo científico publicado na revista “Journal of Ecology”, com autoria de cientistas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), explora as sinergias entre a derrubada de florestas, fogo e tempestade de vento como causas da degradação na Amazônia. As áreas mais fragmentadas e as já atingidas previamente por fogo são as que mais sofrem com os efeitos das tempestades de vento.
O estudo quantificou as respostas da vegetação a uma tempestade de alta intensidade que durou cerca de 30 minutos e ocorreu no sul da Amazônia em um experimento de fogo em grande escala em 2012. Os dados coletados antes e após a tempestade indicaram que os danos foram maiores para grandes árvores, em áreas perto da borda da floresta, e em áreas queimadas em anos anteriores.
A área experimental fica na Fazenda Tanguro, em Mato Grosso, onde o Ipam desenvolve o Projeto Tanguro, e consiste em três parcelas de 50 hectares estabelecidas em 2004, sendo uma que nunca foi queimada (mantida como controle), uma queimada anualmente e outra queimada em intervalos de três anos. Os resultados mostraram que a tempestade de vento podou, quebrou e arrancou árvores. Nas parcelas queimadas anualmente, 13% das árvores foram danificadas; na queimada a cada três anos foram 17% e, na parcela de controle, apenas 8%.
Quatro anos após a tempestade de vento, cerca de 85% das árvores atingidas pelo vento nas áreas queimadas e 57% na parcela controle morreram. Outro estudo, publicado em 2018 com participação de um pesquisador do Ipam, mostrou um aumento na taxa de mortalidade de árvores em florestas tropicais de diversas partes do mundo devido ao aumento da temperatura, secas longas e piores, ventos mais fortes, entre outros fatores.
O pesquisador do Ipam Divino Silvério, que liderou o trabalho, explica que os resultados são importantes por mostrarem alguns dos processos que levam à grande mortalidade de árvores nas florestas atingidas pelo fogo, mesmo vários anos após a ocorrência dos incêndios. “O fogo torna os troncos mais frágeis e mais fáceis de ser quebrados pelo vento”, afirma Silvério. Ao mesmo tempo, prossegue, a passagem do fogo reduz a densidade das árvores e a camada de raízes no solo que dá sustentação aos troncos. Esses processos tornam as árvores remanescentes muito mais expostas aos ventos. “Mesmo ventos não tão intensos já são suficientes para causar o tombamento das árvores”, afirma o cientista.
Silvério
diz também que o fogo tende a matar preferencialmente as árvores
menores, deixando para trás as árvores maiores – justamente as que ficam
mais expostas aos ventos intensos. Uma vez que a maior parte do carbono
das florestas está estocado nas árvores grandes, e que estas são
atingidas preferencialmente pelos ventos fortes, grande quantidade da
biomassa estocada nas florestas é perdida neste processo.
Tudo
indica que as alterações climáticas em curso aumentem a frequência e a
intensidade de tempestades de vento, assim, a interação deste fator com
outros processos de degradação causados pelo homem, colocam em xeque a
estabilidade da floresta.
O Projeto Tanguro é um esforço científico com o objetivo de conciliar a produção de alimentos e a integridade ambiental com as mudanças climáticas globais e locais. Ele é composto por um grupo interdisciplinar de pesquisadores, sob a coordenação do Ipam e com a colaboração da Amaggi, cuja Fazenda Tanguro, localizada em Querência (MT), serve como centro de experiências do projeto.
Estão abertas até o dia 11 de fevereiro as inscrições para o Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ao todo, as seis chamadas públicas oferecem 48 vagas.
O valor da bolsa
varia de R$ 2.860 (PCI-DD) a R$ 5.200 (PCI-DA), conforme estipulado
nas chamadas. A maioria das bolsas é de PCI-DB, no valor de R$
4.160.
As chamadas tem o
objetivo de selecionar especialistas, pesquisadores e técnicos que
contribuirão para a execução de projetos de pesquisa no âmbito do
PCI (Inpa/MCTIC/CNPQ 2019-2023). O resultado preliminar será
divulgado no dia 26 de fevereiro, e o resultado final, dia 01 de
março.
Os profissionais
selecionados atuarão em seis grandes áreas distintas: 1) Pesquisas
em desenvolvimento em sociedade, ambiente e saúde, 2) Pesquisa em
biodiversidade e recursos naturais, 3) Pesquisa em tecnologia e
inovação, 4) Pesquisa sobre a floresta e os ciclos biogeoquímicos,
5) Padronização das instalações animais do Inpa e 6) Inovação
tecnológica.
Para participar do processo, o candidato deverá ler a chamada pública de interesse e conferir as exigências ao cargo e documentação exigida. As propostas deverão ser encaminhadas ao Inpa para o e-mail pci.inscricao@inpa.gov.br, contendo no título da mensagem o termo “Chamada XX/2019 – PCI”, seguido do nome do candidato e a área de atuação escolhida (Ex.: Chamada 01/2019 – PCI – Fulano de Tal – Área 1).
O processo é dirigido no Inpa pela Coordenação de Capacitação Institucional. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones (92) 3643-3103 / 3643-3149 (das 08 às 12h e das 14h às 18h, horário de Manaus) e pelo e-mail: pci.inscricao@inpa.gov.br.
Os acervos biológicos mais antigos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC) possuem mais de 50 anos e já testemunharam alterações de grande porte na biota amazônica, como a construção das hidrelétricas de Balbina, Tucuruí, Belo Monte e Rio Madeira. Esses acervos trazem o registro da biodiversidade de áreas que nunca mais recuperarão a sua diversidade natural, sendo os únicos testemunhos da existência de várias espécies extintas localmente.
A coleção de formigas do Inpa deve conter pelo menos 15 mil exemplares montados em alfinetes entomológicos, distribuídos em 11 subfamílias das 17 viventes no mundo. Já a parte do acervo em via úmida (em álcool a 80%), possui uma quantidade ainda não calculada de exemplares, podendo chegar a dezenas ou mesmo centenas de milhares.
Desde 2009, um incremento na identificação e classificação da coleção de Formicidae vem sendo realizado pela Dra. Itanna Fernandes, que em 2012, após a obtenção do título de mestre, passou a auxiliar a curadoria. Desde então, a coleção principal recebeu representantes de outras duas subfamílias, Agroecomyrmecinae Carpenter, 1930, e a raríssima subfamília Martialinae Rabeling & Verhaagh, 2008, possuindo hoje em seu acervo 13 subfamílias.
De acordo com Itanna, a subfamília Martialinae é endêmica da região amazônica, possuindo como localidade tipo a região metropolitana de Manaus, e é considerada a espécie mais rara dentro da mirmecologia (ciência que estuda as formigas). A espécie foi inicialmente descrita com base em uma única operária, e mais tarde, devido à visita do pesquisador americano Brendon Boudinot (especialista em machos de formigas), uma série de 25 machos pertencentes à espécie foi descoberta na via úmida da coleção do Inpa, esta coletada em 1985 por Bert Klein. “A descoberta desses indivíduos tornou a Coleção de Invertebrados do Instituto a maior detentora mundial de representantes da espécie”, contou.
Em dezembro de 2018, Dra. Itanna, com a ajuda do curador e pesquisador do Inpa Dr. Marcio Oliveira e do técnico Francisco F. Xavier Filho, incorporaram à coleção principal outras nove mil formigas montadas em alfinetes, distribuídas em 13 subfamílias. Essas formigas pertencem à fauna brasileira e peruana, obtidas durante as inúmeras expedições científicas realizadas no decorrer do seu mestrado e doutorado. Dentre esses indivíduos, há representantes do gênero Syscia Roger, 1861, até então registrado apenas para a Colômbia e que está em processo de publicação.
Já a coleção de via úmida está recebendo da Dra. Itanna Oliveira e do Dr. Jorge Souza aproximadamente 58 mil formigas provenientes do monitoramento ambiental da Usina de Santo Antônio no Rio Madeira, durante as fases de pré e pós-enchimento do reservatório da hidrelétrica. O monitoramento e o banco de dados obtidos com o estudo foram mundialmente premiados em 2017 pelo Global Biodiversity Information Facility (GBIF) como o melhor banco de dados na categoria Dados Ecológicos, sendo o Inpa o único detentor desse material.
Desde sua criação na década de 1990 (no Programa de Coleções Científicas Biológicas), a coleção de Formicidae não recebe um depósito tão substancial e representativo, tornando-se notável pelas inúmeras visitas científicas, além de pedidos de empréstimos e colaborações. Com a implementação da coleção em via seca e úmida, o Instituto espera uma procura ainda maior pelo acervo, incentivando gerações presentes e futuras no estudo da mirmecofauna.
Para tentar revelar os níveis de contaminação dos peixes por mercúrio e riscos ao consumo humano, uma equipe multidisciplinar formada por profissionais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) realizou uma expedição para coletar amostras de peixes e de água na bacia do rio Branco, em Roraima, no período de 29 de outubro a 9 de novembro de 2018.
Os trabalhos foram coordenador por Bruno Souza do ICMBio e Fabíola Domingos Moreira, do Inpa. Foram coletados peixes nos rios Branco, Mucajaí e Uraricoera, incluindo a compra de pescado nos mercados de peixe das cidades de Caracaraí e Mucajaí. Mais de 2 mil amostras de tecidos, escamas, nadadeiras, sangue e órgão vitais foram coletados de 240 peixes. O resultado sobre a possível contaminação dos peixes por metais pesados deve sair em 180 dias.
Conforme o pesquisador Romério Bríglia, do ICMBio/RR, a pesca é uma atividade importante no estado, com mais de 6 mil pescadores profissionais atualmente em atividade, sendo esta uma fonte expressiva de alimento e de renda em Roraima.
“A pesquisa é importante pois irá avaliar a presença de mercúrio e a ocorrência de efeitos prejudiciais à saúde dos peixes, sendo que essa contaminação pode refletir em redução do pescado para a população”, destacou Fabíola Domingos Moreira.
De acordo com o analista ambiental Bruno Souza, o estudo contribuirá para a implementação de um protocolo de monitoramento de metais pesados. “Esse protocolo será fundamental para a conservação dos ambientes aquáticos da
Amazônia e manutenção da qualidade do pescado da região”, ressaltou.
O metal pesado mercúrio é utilizado no garimpo de ouro sendo liberado no ambiente e atingindo os rios e igarapés. Estudos anteriores realizados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já revelaram que parte da população
Yanomami que vive nas proximidades das áreas de garimpo já se encontra contaminada por mercúrio.
O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica (Cepam) do ICMBio, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Instituto de Amparo à Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de Roraima (IACTI-RR), a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) são instituições parceiras da iniciativa que foi financiada com recursos do Ministério do Meio Ambiente por meio do Programa ARPA – Áreas Protegidas da Amazônia.
Histórico
Roraima tem uma característica única: é banhado quase que exclusivamente por uma só bacia hidrográfica, a bacia do rio Branco. Historicamente, o Estado tem enfrentado ondas de crescimento da atividade garimpeira ilegal em seus domínios, principalmente em terras indígenas, e à montante da capital, Boa Vista, que concentra mais de 65% da população residente no Estado.
No final dos anos 1980 do século passado, ocorreu um boom dessa atividade, quando mais de 30 mil garimpeiros adentraram na área que seria homologada como terra indígena Yanomami apenas em 1992, quando se decidiu pela
retirada dos garimpeiros e a explosão das pistas de pouso que apoiavam a atividade. Mas de alguns anos pra cá a área foi novamente invadida e o garimpo recrudesceu, agora com mais intensidade, e com o uso de máquinas e
tratores com um potencial de alterar os ambientes de forma ainda mais devastadora. A preocupação com o retorno do garimpo está em saber quais seriam os reais impactos dessa atividade para o meio ambiente e para as populações locais.
Pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves (SC) desenvolveram um biofiltro, tecnologia que utiliza bactérias para purificar o biogás gerado a partir dos dejetos suínos das granjas. O produto é alinhado ao conceito de energias renováveis e aproveita resíduos da produção animal. O resultado do processo é um biogás com baixos teores de enxofre, que pode ser usado para geração de calor, energia elétrica ou mesmo combustível veicular para substituir gasolina ou óleo diesel.
O processo de biofiltragem foi resultado de pesquisas de um projeto para desenvolver a biofiltragem com a finalidade de gerar energia elétrica a partir de biogás oriundo de dejetos de suínos no município de Itapiranga (SC), que teve o apoio financeiro das empresas Eletrosul e Uirapuru Transmissora de Energia.
O biogás gerado a partir dos dejetos suínos tem alta concentração de sulfeto de hidrogênio, ou gás sulfídrico (H2S), que é o responsável pela corrosão de metais e motores. Esse gás diminui a vida útil de geradores de eletricidade, deteriora queimadores e impossibilita o uso veicular como biometano.
O biofiltro promove a redução na concentração desse componente em mais de 90%. “A dessulfurização do biogás permite o seu uso direto, tanto para aquecimento em caldeiras como para geração de energia elétrica, ou também favorece a purificação posterior no caso do biometano e uso veicular, que é o caso da demonstração que estamos efetuando na Embrapa”, explica o analista Ricardo Luís Radis Steinmetz, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia.
O equipamento, que está sendo validado em escala de produção, faz parte da Unidade de Produção de Biometano, conhecida como BiogásFORT, e foi apresentado pela Embrapa ao público no dia 30 de outubro. “O objetivo da Unidade é demonstrar a rota tecnológica e a oportunidade de uso do biogás gerado a partir dos resíduos da suinocultura como matéria-prima para produzir combustível veicular”, destaca o pesquisador Airton Kunz, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Suínos e Aves e responsável pelo projeto.
Carro a gásA Unidade de Produção de Biometano da Embrapa Suínos e Aves é a primeira em Santa Catarina e uma das primeiras no Brasil nessa escala para uso como combustível veicular. Depois de passar pelo processo de dessulfurização e purificação, o biometano é usado para abastecer um dos veículos da frota da Embrapa Suínos e Aves.
A tecnologia é semelhante à usada em veículos movidos a GNV e segue regulamentações como as Resoluções ANP Nº8, de 30.01.2015 (DOU 2.2.2015), e ANP Nº 685, de 29.6.2017 (DOU 30.6.2017). Além disso, atende diversos compromissos com a produção de energia a partir de fontes renováveis. Um desses compromissos está vinculado ao Objetivo de Desenvolvimento Estratégico – ODS 7 – Energia Limpa e Acessível.
Para a chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, Janice Zanella, a rota tecnológica apresentada reforça o compromisso da Embrapa com a sustentabilidade.
O diferencial da Unidade de Produção de Biometano está justamente na possibilidade de uso do biofiltro, que faz o processo inicial de purificação do gás usando o próprio dejeto de suíno tratado e garante conformidade para a etapa de purificação, que produz o biometano.
Bactérias limpam o gás
A vantagem da tecnologia da Embrapa é que o processo de purificação é biológico, ou seja, a remoção do H2S ocorre por meio da ação de bactérias oxidadoras de sulfeto, sem necessidade de uso de insumos. O processo utiliza o próprio efluente do dejeto suíno e gera enxofre elementar, que pode ser usado como fertilizante.
Em processos convencionais, essa purificação pode ocorrer de maneira química, com lavagem com soda, ou física, com inserção de carvão ativado. “Nos dois casos, ainda temos uma questão de manejo dos produtos, que podem ser prejudiciais ao produtor e ao meio ambiente. Já o resíduo do biofiltro pode ser reaproveitado”, explica Steinmetz, salientando que a tecnologia é sustentável e segura.
O segundo passo da Unidade de Produção de Biometano para a geração de combustível veicular é a purificação do biogás dessulfurizado. Nessa etapa, ocorre a retirada de umidade por resfriamento e a compressão. O sistema tem capacidade de produzir 9 a 12 Nm³/h de biometano. Depois de produzido, o biometano é armazenado no reservatório, com capacidade de 50m³, com pressurização de cerca de 210gkf/cm². O projeto executivo da Unidade de Produção de Biometano da Embrapa Suínos e Aves tem parceria da Janus & Pergher e Kemia Tratamento de Efluentes.
O uso veicular do biometano ocorre na sequência e segue os mesmos procedimentos de abastecimento de GNV. De acordo com Steinmetz, com 15 m³ de biometano é possível estimar uma autonomia de 230 a 300 km rodados por um veículo com esse sistema. Para gerar essa quantidade de gás já purificado são necessárias cerca de 300 matrizes suínas. “Essa é uma estimativa, uma vez que estamos tendo como base a nossa granja de suínos e temos o processo em escala de pesquisa”, compara.
“É um combustível produzido a partir de uma fonte renovável, substituindo a fonte fóssil, e sem impacto para o meio ambiente”, reforça Kunz.