Câncer de pênis levou quase 24% de casos à amputação e Sociedade Brasileira de Urologia alerta para a prevenção

De janeiro a novembro do ano passado, 1.933 casos de câncer de pênis foram notificados no Brasil. Desses, quase 24% dos pacientes, o equivalente a 459, precisaram ter o órgão amputado, em decorrência do avanço da doença. O dado foi revelado pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que desenvolve, neste mês de fevereiro, uma campanha de combate a esse tipo de neoplasia maligna.

De acordo com o presidente da seccional amazonense da entidade, cirurgião uro-oncologista Giuseppe Figliuolo, a iniciativa faz alusão ao Dia Mundial de Combate ao Câncer, comemorado neste sábado (04/02).

Os dados, extraídos do DataSus, mostram que entre 2018 e 2022, foram diagnosticados 10.359 casos de câncer de pênis no Brasil e realizadas 2.830 amputações, uma média de 566 ao ano, dado considerado alarmante, afirma o especialista, uma vez que a doença tem prevenção e pode ser tratada com eficácia quando diagnosticada precocemente.

O especialista explica que a falta de informação é um dos principais fatores que levam os homens a não procurarem ajuda no início da doença, que tem como principais fatores de risco o HPV (Papilomavírus Humano), a fimose (em função do acúmulo de secreção abaixo do prepúcio, na região da glande), higienização inadequada e comportamento de risco, como o não uso do preservativo durante as relações sexuais.

“O câncer de pênis tem como principais sinais lesões na região genital, especialmente na glande ou na face interna do prepúcio. Essas lesões podem ter características variadas e, geralmente, não cicatrizam. É importante que os homens fiquem atentos a características como vermelhidão, coceira local, queimação, dor e odor desagradável”, explica Giuseppe Figliuolo.

Os principais métodos de prevenção, segundo o especialista, são: vacinação contra o HPV, uso de camisinha durante as relações sexuais, a higienização correta do pênis (puxando a pele para trás, lavando com água e sabão neutro, ou, sabão de coco) e a postectomia (retirada cirúrgica da pele que encobre a glande).

Pesquisa

Coordenada por Figliuolo, a pesquisa ‘Caracterização epidemiológica dos pacientes portadores de câncer de pênis: um estudo de 20 anos’, é desenvolvida no âmbito da Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas (FCecon), com o suporte do Programa de Apoio à Iniciação Científica (Paic), e tem mostrado o perfil da população que desenvolve a doença.

Atualmente, trabalham no estudo os seguintes pesquisadores: Bruna Marselle Marreira de Lima Barros, Kátia Luz Torres Silva,  Heidy Hallana de Melo Farah Rondon, Pâmella Vital da Silva, Giovanna Barbosa dos Santos, Valquíria do Carmo Alves Martins, além do uro-oncologista.

O objetivo da pesquisa é descrever as características clínicas e epidemiológicas dos pacientes, portadores de câncer de pênis, tratados na FCecon, considerada a unidade de referência em cancerologia na região.

Uma análise preliminar apontou que, em 181 indivíduos atendidos no período de 2002 a 2022, com idade entre 18 e 101 anos (média de 58 anos), 46,96% tinham mais de 60 anos e 13,26% tinham menos de 39 anos, dado importante, que, de acordo com o médico, mostra que a doença tem afetado também homens mais jovens que o habitual.

Quanto à procedência, 53,04% deles residiam no interior do Amazonas, onde a informação ainda é escassa, e 22,10% em Manaus. De acordo com o estudo, 17,13% eram analfabetos e 44,75% tinham apenas o 1º grau incompleto. Entre os principais fatores de risco detectados, 44,2% eram fumantes ou ex-fumantes e 41,44 % tiveram fimose.

Dos 76,24% que realizaram tratamento cirúrgico, 31,88% foram submetidos à penectomia total (amputação total do pênis) e 65,22% à penectomia parcial. Ainda de acordo com a pesquisa, o tumor mais frequente nesta população foi o Carcinoma de Células Escamosas de Pênis (CEEP) do tipo bem diferenciado, representando 30,39% dos casos.

Fotos: Divulgação

O combate aos cânceres ginecológicos começa com informação

Dra. Daniela de Freitas*

Criado pela União Internacional para o Controle do Câncer, o dia Mundial de Combate ao Câncer, em 4 de fevereiro, tem por objetivo levar informação de qualidade a pacientes e familiares sobre o tema. Algo fundamental, principalmente quando voltamos o olhar para o combate aos cânceres ginecológicos.

Apesar de apresentarem alta letalidade, pouco se fala sobre os cânceres ginecológicos. São considerados neoplasias ginecológicas aquelas que afetam o aparelho reprodutor da mulher. Entre eles, podemos citar: colo uterino, ovário, corpo uterino/endométrio, vagina e vulva.

No Brasil, o câncer ginecológico mais incidente é o do colo de útero, seguido pelo de ovário, um dos mais letais e de maior dificuldade de diagnóstico, pois não há exames específicos para sua detecção. Para se ter uma ideia, de cada 10 pacientes, apenas duas têm o diagnóstico precoce.

No caso do câncer de ovário, os principais fatores de risco que devem ser considerados são: idade superior a 40 anos, histórico familiar, não ter tido filhos ou ter sido mãe após os 30 anos e reposição hormonal.

Apesar de serem mais comuns na terceira idade, os tumores ginecológicos podem também acometer mulheres de outras faixas etárias. Por isso, é importante se informar sobre seu histórico familiar e realizar consultas periódicas com médicos ginecologistas, que poderão indicar a realização de exames como Papanicolau, HPV e ultrassom transvaginal.

É importante estar sempre atenta aos sinais do corpo. Um inchaço abdominal que persiste por dias ou meses, por exemplo, é um sintoma importante que precisa de investigação médica. Quanto mais precoce o diagnóstico e início de tratamento, melhores são as chances de evitar o avanço do tumor.

Apesar dos cânceres ginecológicos serem preocupantes, a medicina tem evoluído. Há novos tratamentos disponíveis. Muitos, inclusive, estão contemplados no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), tornando seu acesso garantido para todas as mulheres elegíveis aos tratamentos e que possuem plano de saúde.

É importante sempre contar com o apoio de amigos e familiares e buscar informações científicas sobre sintomas, diagnóstico e tratamento. Informação é poder.

* Dra. Daniela de Freitas é médica oncologista do Hospital Sírio-Libanês.

Fotos:  Autora – Reprodução | Ilustrativa / UICC 

Material da Campanha do Dia Mundial do Câncer pela Union for International Cancer Control (UICC) está licenciado sob uma licença  Creative Commons Attribution-ShareALike 4.0 International License.

O câncer em 2020: como estamos nessa batalha?

Por Dra. Vivian Antunes

Entre outras tantas coisas, o câncer é um desafio para a humanidade. É temido por quase todos nós (senão todos), é vigorosamente caçado por cientistas ao longo dos séculos, é doloroso para os milhões que dele sofrem e é passível de prevenção em um terço das vezes.

A doença é mesmo um desafio vivo. A história dessa moléstia se entrelaça com a própria história da humanidade, com seu primeiro registro há 4 milhões de anos. Por mais que hoje se saiba mais sobre o câncer do que nunca, e que marcantes avanços sejam reconhecidos, ainda é responsável por 9,6 milhões de mortes todos os anos.

Dados recentes publicados pela American Cancer Society (ACS) documentam uma queda de 2,2% na mortalidade por câncer entre 2016 e 2017. Essa é a maior queda registrada até hoje, e pode ser parcialmente explicada pelos avanços nos cuidados do câncer de pulmão e melanoma nesse período. A mortalidade por câncer subiu até 1991, e desde então teve queda de 29%.

O mundo da ciência está otimista por presenciar o que antes parecia inatingível, como o advento da imunoterapia (tratamento que faz com que o sistema imunológico atue contra o câncer), e que traz maior chance de cura mesmo para pacientes com metástases.

As coisas também têm mudado para aqueles que vivem com a doença, não só pelos melhores desfechos e melhor controle de sintomas, mas sobretudo por assumirem cada vez mais o protagonismo do seu tratamento.

Não existe mais espaço para a medicina que olha exclusivamente para a doença. Entra em ação o trabalho de dar acesso a informações qualificadas para que os pacientes compartilhem decisões que respeitem seus valores. É viver com coerência, na saúde e na doença. É tratar com respeito a doença e o doente.

Esse processo, às vezes citado como “empoderamento” do paciente, vai além da qualificação médica: requer ação dos meios de informação por diferentes mídias, o ativismo e empenho de organizações relacionadas ao tratamento e resultam em uma feliz mudança de paradigmas no tratamento de seres humanos.

A contar para o lado triste da história estão as vidas que poderiam ser salvas com a adequada implementação de estratégias de prevenção e detecção precoce. Por exemplo, cerca de um terço das doenças neoplásicas podem ser prevenidas.

O tabaco ainda é responsável por 22% das mortes por câncer, e evitar a obesidade, manter atividade física e dieta adequadas reduzem consideravelmente o risco de desenvolver diversos tipos de tumores, como o de mama, intestino e próstata.

Ainda no caminho do que podemos evitar está o câncer de colo uterino. O Brasil tem um lamentável e elevadíssimo número de mulheres que sofrem e morrem por essa doença. É importante mencionar o papel da vacinação contra o vírus HPV como um marco na luta contra mortes pelo câncer. A melhor conscientização e educação da população, bem como estratégias de saúde pública, podem reduzir mortes por câncer. Não é otimismo excessivo. É ciência e ação!

Em um país de grandes disparidades, temos também o que chamo de desigualdade do câncer. O acesso aos recursos que trazem maior chance de cura e mais do que dobram o tempo de vida de pacientes não é homogêneo. Felizmente os tratamentos são a cada dia melhores, mas também, proporcionalmente mais caros. Sem falar no desequilíbrio no número de mortes por câncer no mundo, sendo mais frequente nos países em desenvolvimento.

O Dia Mundial do Câncer fortalece o movimento de todos que enxergam o câncer como um desafio a ser combatido para que, um dia, seja uma doença menos temida, menos sofrida, mais compreendida pela ciência e quem sabe, previnida em uma boa parte das vezes, senão em todas elas.

Vivian Castro Antunes de Vasconcelos é médica oncologista clinica do Hospital Vera Cruz, grupo SOnHe e CAISM-UNICAMP. É mestre em ciências na área de Oncologia pela Unicamp. Membro titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e da Sociedade Europeia de Oncologia (ESMO).

Foto: https://www.worldcancerday.org/pt-br
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