Especialista alerta para proteção contra sífilis no Carnaval

Pode parecer contraditório, mas apesar de ter uma das formas de cura mais simples – e baratas – a sífilis virou um grande problema nacional ao ponto de o Ministério da Saúde decretar epidemia, no final de 2016, por conta da falta de controle e diagnóstico. Em 2017, foram notificados no Brasil 119.800 casos de sífilis adquirida, 49.013 casos em gestantes, 24.666 ocorrências de sífilis congênita. No Amazonas esse número é de 1.696 casos da doença adquirida, 1.573 em gestantes e 802 casos congênitos, no mesmo período, segundo dados do Boletim Epidemiológico de Sífilis 2018, da Secretaria Nacional de Vigilância em Saúde.

A doença atinge, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 12 milhões de pessoas no mundo, o que é um desafio para especialistas. “Qualquer pessoa sexualmente ativa, independentemente de faixa etária, classe social ou opção sexual, pode contrair uma DST. Basta praticar sexo inseguro”, alerta o urologista Giuseppe Figliuolo, especialista do Centro de Urologia do Amazonas (Urocentro).

O alerta é para que as pessoas previnam-se, principalmente na época do Carnaval, período em que costuma aumentar as chances de contração da doença. “Há uma espécie de risco consciente das pessoas, principalmente dos jovens, porque, embora saibam que há o perigo, não presenciaram os anos críticos de contaminação e morte por HIV. E a presença de doenças como sífilis ou gonorréia, aumenta consideravelmente o risco de adquirir ou transmitir a infecção pelo HIV”, afirma Figliuolo.

No mundo, a OMS estima ainda a ocorrência de aproximadamente um milhão de casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis por dia como clamídia, gonorreia, sífilis e tricomoníase.

Segundo o urologista, os primeiros sintomas da sífilis são feridas indolores no pênis, no ânus ou na vulva que, se não forem tratadas, desaparecem espontaneamente e retornam depois de semanas, meses ou anos nas suas formas secundária ou terciária, consideradas mais graves.

Quando a infecção surge durante a gravidez, ela pode infectar o feto, que contrai a sífilis congênita, situação que pode causar má-formação, aborto ou a morte do bebê. A enfermidade tem cura e o seu tratamento é feito com injeções de penicilina, orientadas pelo médico de acordo com a fase da doença.

Em caso de suspeita, a recomendação é procurar um especialista ou mesmo posto de saúde, onde pode ser feita a testagem rápida. “Por ser uma doença que mascara os sintomas e fica encubada no organismo, o tratamento deve ser iniciado quanto antes, uma vez que é fácil, rápido e nada invasivo”, explica Giuseppe Figliuolo.

Ele alerta que como não há dor, coceira ou outro tipo de sintoma mais evidente, é preciso que o paciente seja transparente nas informações junto ao seu médico, bem como realize check up regularmente. “Por conta do preconceito e o medo do julgamento, os pacientes deixam de comunicar que tiveram relação sexual desprotegida, o que atrapalha o diagnóstico precoce da doença”, avalia o urologista.

Foto: divulgação

Sintomas não evidentes aumentam taxa de mortalidade por câncer renal

O câncer de rim é o terceiro mais frequente no aparelho urinário masculino, ficando atrás somente dos cânceres de próstata e bexiga. Representa aproximadamente 3% das neoplasias malignas em adultos no Brasil. Recentemente, o ex-goleiro do Corinthians, Jairo do Nascimento, que fez história no clube paulista nos anos 1970, foi diagnosticado com um tipo raro da doença, o que mobilizou a solidariedade do clube de futebol.

De acordo com o urologista Giuseppe Figliuolo, do Centro de Urologia do Amazonas (Urocentro), aproximadamente 30% dos pacientes só são diagnosticados após a metástase (disseminação da doença para outras partes do corpo). Como a maioria não apresenta sintomas – apenas 5% dos pacientes podem apresentar os principais sinais da doença –, a taxa de mortalidade dos pacientes diagnosticados com câncer de rim é alta, alcançando até 50%.

“Normalmente a doença só é localizada quando se faz exame em busca de outras coisas. Por isso reforçamos a importância da prevenção, do acompanhamento anual do funcionamento do aparelho geniturinário, principalmente em pessoas com idade entre 50 e 70 anos”, afirmou o especialista. Como a frequência é maior na população masculina, Figliuolo alerta ainda para a necessidade de conscientização, uma vez que os homens tendem a negligenciar os cuidados com a própria saúde.

Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), vinculado ao Ministério da Saúde, apontam uma estimativa da incidência de 6,2 mil casos de câncer de rim para 2018 no Brasil, sendo 3,7 mil casos em homens e 2,5 mil em mulheres.

Tratamento

A cirurgia é o único tratamento curativo definitivo para o câncer de rim.  Métodos como a laparoscopia, considerada minimamente invasiva, já são utilizados com sucesso em vários casos.  “Esse tipo de cirurgia é realizada com pequenos furos, por onde o médico insere uma micro-câmera e as pinças necessárias para o procedimento, o que diminui a dor, além de tornar o processo de recuperação mais rápido”, explica Giuseppe Figliuolo.

Outro procedimento já realizado em Manaus e que garante a preservação do rim, é nefrectomia parcial, que consiste na retirada somente do tumor renal, preservando o órgão.

Diagnóstico e fatores de risco

Tabagismo, obesidade, hipertensão e histórico familiar são alguns dos fatores de risco para o câncer renal. Além disso, de 6% a 10% dos pacientes apresentam dor no flanco, sangue na urina e massa abdominal palpável. No entanto, a forma mais frequente de diagnóstico são os achados incidentais em exames de rotina, como a ultrassonografia do abdômen.

O diagnóstico definitivo da doença é feito através de exames de imagem, como a tomografia computadorizada ou a ressonância magnética, seguidos de biópsia da lesão, cujo tecido é retirado cirurgicamente e submetido à análise patológica.

Foto: reprodução internet

Alterações extremas no regime de seca e cheia podem levar à extinção árvores de igapós, diz pesquisador

Mudança de clima, aumento de temperatura, desmatamentos, queimadas e hidrelétricas são ameaças que podem levar à extinção regional de árvores que só ocorrem nos igapós, áreas alagáveis dos rios de águas pretas da Amazônia. Eventos extremos alteram o regime de cheia e seca (pulso de inundação) desses ambientes vulneráveis, que abrigam cerca de 600 espécies arbóreas que durante milhões de anos se adaptaram para tolerar a inundações sazonais de até dez meses por ano.

O alerta é do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Jochen Schöngart, que fez a palestra de abertura do 7º Congresso de Iniciação Científica (Conic) sobre distúrbios naturais e antropogênicos em florestas alagáveis de igapó, em 30 de julho.

Os igapós tem lenta dinâmica por falta de nutrientes nos solos. Para suportar a inundação, as árvores fazem adaptações morfoanatômicas, bioquímicas e fisiológicas, por exemplo, desempenhando um metabolismo anaeróbico durante a fase aquática com reservas de carboidratos que a planta produziu e armazenou durante a fase terrestre (não inundada) para poder tolerar o longo período que ficará inundada.

“Quando essas árvores não saem mais da água, desse ambiente, isso causa mortalidade em grande escala. E nessas topografias você tem espécies endêmicas que são tão bem adaptadas que só ocorrem naquele ambiente e com isso são muito vulneráveis também, como é a Eschweilera tenuifolia, conhecida como macacarecuia ou cuieira”, disse Schöngart, vice-coordenador do Grupo Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (Maua).

Conforme o pesquisador, a implementação de usinas hidrelétricas muda o regime hidrológico por armazenar mais água nos reservatórios durante a época chuvosa para liberar essa água na seca para ter uma “produção mais ou menos estável”. O resultado é que os níveis máximos anuais ficam menores e os níveis mínimos anuais ficam mais altos, porque a usina libera mais água durante a seca.

“Isso causa problema para essas espécies arbóreas do igapó, porque elas ficam de repente durante vários anos consecutivos inundados e ultrapassa a capacidade de adaptações dessas espécies resultando em mortalidade de grande escala”, contou o pesquisador, lembrando que Balbina já causou impactos de grande escala pela criação do reservatório que inundou uma área de 4,4 mil quilômetros quadrados.

Pesquisas do Grupo Peld/Mauá mostram que mais de 20 anos depois da usina de Balbina as árvores em florestas de igapó à jusante da barragem continuam morrendo nas topografias mais baixas, aproximadamente 12% dos igapós em até 120 quilômetros depois da barragem são dominadas por árvores mortas, conhecidas como paliteiros. O estudo investigou a conexão entre a represa e as árvores mortas de Macrolobium acaciifolium, conhecida como arapari.

Para futuras instalações de usinas hidrelétricas, o pesquisador sugere que se leve em consideração o reservatório, a região ao redor da usina e as áreas alagáveis à jusante da barragem. Para Schöngart, uma forma de mitigar os impactos é obrigar os operadores das usinas a simular os pulsos de inundação garantindo que as árvores saiam todos os anos durante alguns meses fora da água para renovar suas reservas e evitar a mortalidade em grande escala. “Mas tem de ser implementado na legislação para garantir isso”, disse.

Adaptações

As adaptações ocorrem em diferentes níveis. As morfoanatômicas são formações de raízes adventícias que permitem que a espécie consiga obter água e nutrientes quando o sistema radicular principal já está em condições de solo encharcado ou inundado.

A formação de aerênquima são cavidades de ar dentro do caule e da raiz, e a planta consegue difundir esse oxigênio capturado pelas lenticelas para as raízes e com isso consegue aumentar a concentração dentro da raiz em condições anóxicas (falta de oxigênio) de solo durante a inundação. “Então, ela manda oxigênio capturado da atmosfera pelo tronco para baixo e consegue se manter nessas condições desfavoráveis”, disse o pesquisador.

Foto: Anélia Resende (Maua/Inpa)