Fiocruz traz conferência internacional sobre Ciência, Tecnologia e Inovação

A Fiocruz traz de 13 a 15 de fevereiro para o Rio de Janeiro a reunião anual da Comunidade Global de Tecnologia Sustentável e Inovação, a G-Stic, que pela primeira vez será realizada nas Américas. E como a Fundação é a principal co-anfitriã, a saúde ganha um grande destaque na G-Stic Rio.

Nomes como o de Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Qu Dongyu, diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), ambos on-line, e Nísia Trindade Lima, ministra da Saúde, presencialmente, reúnem-se na ExpoMag para discutir o tema Por um futuro equitativo e sustentável: soluções tecnológicas inovadoras para uma melhor recuperação pós-pandemia.

“A Fiocruz, como principal organizadora desta edição, reforça sua participação em âmbito global na discussão de tecnologias e inovações sustentáveis, com uma visão de destaque para a saúde”, explicou Mario Moreira, presidente interino da Fundação.

Para Moreira, a realização da conferência no continente confere uma ênfase especial à questão das desigualdades globais e regionais em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I).

“Essa tem se revelado uma das fragilidades da capacidade internacional de articulação de resposta e preparação para emergências sanitárias. Equidade e sustentabilidade apresentam-se, nesse aspecto, como outros elementos definidores dessa capacidade”, acrescentou.

A lista de participantes reúne outros nomes de peso, como Macharia Kamau, diplomata queniano que foi o enviado especial da ONU para Implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a serem alcançados até 2030; Amandeep Singh Gill, enviado especial do secretário-geral da ONU para Tecnologia; e Maria Van Kerkhove, líder técnica da OMS para Covid-19. A lista segue com a ativista indígena Samela Sateré-Mawé e a princesa belga Marie-Esmeralda, presidente do Fundo Leopoldo III para a Conservação da Natureza, entre outros. A Fiocruz participa ainda com integrantes como o próprio Moreira; Marco Krieger, vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde; e Mauricio Zuma, diretor do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos).

“O mundo está diante de um grande desafio: a reconstrução pós-pandemia em bases sustentáveis, respeitando a equidade e a inclusão. E para fazer frente a esse processo, o grande referencial é a Agenda 2030, com os ODS”, explicou Paulo Gadelha, coordenador da Estratégia Fiocruz para a Agenda 2030 (EFA 2030) e à frente da organização da G-Stic Rio.

A conferência lida justamente com essa questão: pensar em como garantir tecnologias eficazes e sustentáveis visando os ODS. Gadelha lembrou que, apesar da proximidade de 2030, a grande maioria desses objetivos está longe de ser cumprida.

“O desafio que temos é como CT&I podem modificar esse cenário, quebrar assimetrias, garantir o acesso às tecnologias, em processos inclusivos. A pandemia nos deu exemplos disso, como nas vacinas contra Covid-19, que foram produzidas rapidamente, mas que ficaram inacessíveis à maioria da população”, avaliou.

Inicialmente capitaneado pelo instituto de tecnologia belga Vito, que mantém peso significativo no evento, a G-Stic reúne um conjunto de instituições com representações em todas as regiões do mundo. A entrada do Brasil em 2018, por meio da Fiocruz, deu uma relevância ainda maior para o tema da saúde, o que fica claro na programação de fevereiro.

“Um dos ativos únicos da G-STIC é sua perspectiva multissetorial e orientada para o futuro em CT&I. A G-Stic analisa clusters de tecnologia e identifica soluções que contribuem substancialmente para alcançar os princípios da Agenda 2030 e os ODS. Ela reúne partes interessadas de organizações multilaterais, governos, indústria, atores privados, sociedade civil e academia”, disse Dirk Fransaer, diretor-geral da VITO.

“Em sintonia com essa abordagem, a G-Stic Rio reconhece os princípios de solidariedade e ‘trabalho conjunto’ do relatório do secretário-geral da ONU Nossa Agenda Comum como fundamentais para acelerar a implementação dos ODS. A CT&I têm o potencial de catalisar o envolvimento da comunidade nesse processo. A próxima edição do G-STIC no Rio de Janeiro trará esse conceito de integração, solidariedade e multilateralismo entre setores, partes interessadas e países em um interesse comum”, acrescentou.

As sessões do evento se dividem em seis temas: Saúde, Educação, Água, Energia, Clima e Oceanos. Em Saúde, Bio-Manguinhos está organizando mesas sobre vacinas e imunização. O painel Desafios e Perspectivas para a produção local, nos dias 14 e 15, será dividido em quatro sessões que trarão especialistas como James Fitzgerald, diretor do Departamento de Sistemas e Serviços de Saúde da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas); Lieve Fransen, consultora sênior do Centro Europeu de Políticas em Saúde; Carla Vizzotti, ministra da Saúde da Argentina; e Tiago Rocca, vice-presidente do Conselho de Membros de Fabricantes de Vacinas para Países em Desenvolvimento (DCVMN); além de representantes de instituições internacionais de renome na área como Wellcome, CEPI e Medicines Patent Pool, OXFAM e MSF, entre outros.

Essa agenda tem como objetivo discutir fatores críticos de sucesso para produção local de vacinas em países em desenvolvimento, endereçando os desafios e perspectivas em relação a demanda e fornecimento, financiamento e perspectiva global em relação à propriedade intelectual e acesso.

As discussões envolverão os desafios sistemáticos de pesquisa & desenvolvimento e produção local de vacinas, abrangendo: desafios de saúde tendo em conta o cenário epidemiológico, doenças emergentes e reemergentes, experiências de financiamento da inovação e prontidão para respostas a emergências, os desafios de desenvolvimento de capacidades e financiamento da produção local, e equidade e acesso para assegurar a vacina e a vacinação para todos.

A conferência

Esta é a sexta edição da G-Stic. Considerada a maior conferência global de Ciência, Tecnologia e Inovação para aceleração da Agenda 2030, ela acontecia na Bélgica desde seu início, em 2017. Para aumentar a sua capilaridade, passou a ser realizada em outros países, acontecendo em 2022 durante a Expo Dubai. A Fiocruz, que participa como coanfitriã desde 2018, sugeriu então que a edição de 2023 ocorresse no Brasil.

A G-STIC é organizada em conjunto pela Vito (organização belga de pesquisa, tecnologia e desenvolvimento sustentável) e sete outros institutos de pesquisa sem fins lucrativos: Fiocruz, CSIR (Conselho de Pesquisa Científica e Industrial, África do Sul), Giec (Instituto de Conversão de Energia de Guangzhou, China), Gist (Instituto de Ciência e Tecnologia de Gwangju, Coreia do Sul), Nacetem (Centro Nacional de Gestão de Tecnologia, Nigéria), Teri (Instituto de Energia e Recursos, Índia) e SDSN (Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas).

No Brasil, a G-Stic Rio conta com o patrocínio master da Petrobras, Pfizer e Fiotec e com o patrocínio das empresas Aegea, IBMP, Instituto Helda Gerdau, Klabin, Sanofi, GSK, Enel, Engie, The Rockefeller Foundation, RaiaDrogasil e Firjan, além do apoio do Instituto Clima e Sociedade.

A programação pode ser conferida site da G-Stic Rio

Foto: Reprodução (Topo)
Ilustração: Divulgação

FCecon é escolhida para projeto nacional de prevenção de infecções hospitalares

A Fundação Centro de Controle de Oncologia do Estado do Amazonas (FCecon), unidade vinculada à Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), foi selecionada para participar do projeto “Saúde em Nossas Mãos: Melhorando a Segurança do Paciente em Larga Escala no Brasil”, do Ministério da Saúde (MS).

Durante dois anos, as Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de 204 hospitais selecionados em todo o Brasil serão acompanhadas por unidades de saúde que integram o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi/SUS), consideradas de excelência no país – sendo elas o Hospital Sírio-Libanês, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Moinhos de Vento, Hospital da Beneficência Portuguesa, Hospital do Coração e Hospital Alemão Oswaldo Cruz –, além de representantes do MS.

O objetivo é implantar ou aprimorar medidas voltadas à segurança do paciente, como o atendimento ao paciente com maior segurança; evitar infecções no ambiente hospitalar; e evitar desperdícios no Sistema Único de Saúde (SUS).

Na última segunda-feira (30/08), uma reunião on-line com o Ministério e representantes dos 204 hospitais marcou o início do projeto. No Amazonas, além da FCecon, o Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio, o Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV) e o Hospital Delphina Aziz participam do “Saúde em Nossas Mãos”.

Treinamento e suporte

Na Fundação Cecon, estão ligados ao projeto os profissionais de saúde da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) e as equipes multiprofissionais que atuam nas UTIs adulto e pediátrica.

Ao longo de dois anos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas e médicos receberão capacitações e treinamentos presenciais e virtuais realizados pelo Hospital Sírio-Libanês, que dará suporte técnico à FCecon durante a execução do projeto.

Relatórios mensais auxiliarão no controle de indicadores de segurança do paciente. “Serão estipulados metas e prazos para alcançarmos. Cada hospital terá as suas, mas uma das metas gerais é reduzir em 30% as infecções hospitalares em dois anos”, disse a responsável pela CCIH/FCecon, enfermeira Glauciane Neves.

Intercâmbio

Na avaliação da coordenadora de enfermagem da UTI adulto da FCecon, enfermeira intensivista Simone Gaynett, a participação no projeto é uma oportunidade para aprimorar processos dentro da unidade e troca de informações com profissionais de outros hospitais.

“Com toda a equipe unida e focada nas melhorias dos protocolos propostos pelo Ministério da Saúde, iremos buscar alcançar as metas. É muito benéfica para toda a equipe multiprofissional a participação no projeto com intercâmbio com outro hospital”, disse a coordenadora.

Os primeiros treinamentos devem ocorrer já no mês de setembro.

Foto: Laís Pompeu/FCecon

Consciência e Atitudes

Neste dia 5 de junho de 2021, nossa consciência deve estar em sintonia com a Casa Comum de todos os viventes em nosso planeta e Mãe Terra, com profundo zelo com a Ecologia Integral, que devemos enquanto comunidade, seres humanos, ser solidários, com respeito à natureza, que tanto nos beneficia com os recursos naturais e que devem ser geridos com sustentabilidade, para que possamos entregar aos nossos filhos e netos um planeta digno de se viver em harmonia, com as bênçãos do Grande Arquiteto do Universo – que é DEUS!

Temos ainda de combater a pobreza extrema dos que estão sofrendo de fome, de falta de abrigo e amor fraterno! Temos que sair de nossas zonas de conforto e praticarmos a caridade com compaixão dos que mais precisam, em tempos tão difíceis, em meio a essa pandemia avassaladora e cruel.

Nesse sentido, precisamos “Pensar global e agir local”, devemos estar atentos e conscientes do que acontece no mundo, mas a nossa atuação pode e deve ser em nosso meio, em nosso lar, comunidade e trabalho. Podemos influenciar nossos amigos, vizinhos e familiares. E essa corrente sustentável pode atingir pessoas influentes e distantes. Podemos conservar, preservar e de forma sustentável ajudar o mundo, apenas melhorando hábitos com respeito ao planeta e todas as suas criaturas existentes.

Temos, ainda, o desmatamento na Amazônia Brasileira que diminui a quantidade de árvores e, com isso, diminui: a densidade da floresta; a assimilação de CO2; o Regime Hidrológico, responsável pela evapotranspiração dos vapores d’água, transportados pelos rios voadores, para o equilíbrio e manutenção das chuvas para o resto do mundo.

Devemos priorizar a segurança dos recursos naturais, com um monitoramento perene e eficaz contra as forças destrutivas que insistem em desmatar e promover queimadas criminosas, as quais destroem a flora e a fauna implacavelmente, colocando em risco a vida e a sobrevivência dos povos tradicionais e indígenas em nossa casa comum. Devemos preservar as áreas de extrema significância ecológica e ambiental, para podermos proporcionar as conexões biológicas, transições gênicas das espécies do reino animal, insecta, aquático dentre outros no contexto do bioma amazônico.

Mais que um Dia mundial de comemorações, precisamos ter CONSCIÊNCIA E ATITUDES globais e locais para nossa casa comum em nossa ecologia integral.

Jurimar Collares Ipiranga
Engenheiro Florestal | CREA AM 8687-D
Mestre em Gestão Ambiental e Áreas Protegidas – UFAM/FCA
Avaliador e Perito Florestal – IBAPE

FOTO: Bruno Kelly|Amazonia Real | Fotos Públicas | Queimada vista aérea floresta próximo a Porto Velho/RO

Estudo mostra impactos de 35 anos da hidrelétrica de Balbina em florestas de igapó da Amazônia

Um estudo liderado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) trouxe uma síntese de mais de 35 anos dos impactos causados pela construção da hidrelétrica de Balbina nas florestas alagáveis de igapó até 125 quilômetros rio abaixo da barragem. O estudo foi publicado recentemente na revista científica Aquatic Conservation: Marine and Freshwater Ecosystems, tendo o pesquisador Jochen Schöngart como primeiro de um total de 22 autores, pesquisadores de instituições do Brasil, Alemanha, Holanda e Reino Unido. A publicação traz os detalhes das perturbações encontradas no espaço e no tempo na floresta de igapó, desde o início da construção da barragem em 1983, e um alerta para o que pode acontecer em outros pontos dos rios amazônicos, onde há mais de 400 barragens, operando, planejadas ou em construção.

A alteração mais nociva é o que os pesquisadores estão chamando de “efeito sanduiche”, no qual o “recheio” não é nem de longe saboroso. A pressão sofrida pelas florestas nas porções mais elevadas e mais baixas resulta na perda de habitats e na diversidade de árvores, com severos impactos nas cadeias tróficas, incluindo a alimentação de peixes, além da perda de importantes serviços ecossistêmicos. A pressão das porções baixas resulta dos elevados níveis mínimos de água durante o período de operação da barragem.

“Aproximadamente 12% das florestas de igapó já morreram e outras são ameaçadas se o modo operacional de construção das barragens continuar a alterar o regime hidrológico”, salientou Jochen Schöngart, que possui graduação e doutorado em ciências florestais. Essas árvores são espécies que estavam adaptadas ao regime regular e anual de inundação, como a Eschweilera tenufolia (conhecida como cuieira e macacarecuia), mas que após o barramento do rio Uatumã (150 quilômetros ao norte de Manaus) tiveram que lidar com inundações quase permanentes, acima da capacidade das espécies de tolerar tanto tempo debaixo d’água.

Nas topografias mais altas, as florestas de igapós foram afetadas pela invasão de espécies da terra firme que possivelmente são mais competitivas que as espécies de igapó. Nas topografias médias, houve um forte declínio da diversidade e, com isso, a dominância de algumas espécies arbóreas. Segundo o pesquisador, os distúrbios que causaram o impacto foram gerados durante o enchimento do reservatório (1983-1989) que resultou em condições de extrema seca nos igapós a jusante da barragem.

“Árvores das florestas alagáveis começaram a morrer por causa da falta de água. Possivelmente incêndios também afetaram os igapós neste período em que as condições secas geradas ainda foram potencializadas por eventos o El Niño (1982/1983 e 1986-1988), que diminuem a precipitação e tendem aumentar a temperatura e a umidade relativa do ar nesta região”, explicou.

A hidrelétrica de Balbina, no município de Presidente Figueiredo, é considerada um dos maiores desastres socioambientais da Amazônia, com impactos que vão além do reservatório e da barragem. O reservatório inundou uma área de quase 3.000 quilômetros quadrados, afogando florestas de igapó e de terra firme. Apenas os planaltos de terra firme em altitudes mais elevadas permaneceram, formando uma paisagem fragmentada de mais de 3.500 ilhas isoladas em um “cemitério de milhões de árvores mortas”, conhecidos “paliteiros”, e a produção ao longo dos anos de um grande volume de gases de efeito estufa, como o metano. A capacidade instalada prevista era de 250 MW, porém, desde o início das operações em fevereiro de 1989, Balbina nunca gerou energia suficiente para atender Manaus que atualmente consome dez vezes mais energia do que essa usina hidrelétrica produz.

Distúrbios espaço-temporais nas florestas alagáveis de igapó a jusante da barragem de Balbina ao longo de um período de 35 anos, resultando em perda de macrohabitats, mortalidade maciça de árvores e perda da diversidade de espécies arbóreas, afetando o funcionamento do ecossistema e o fornecimento de serviços ambientais

Recomendações

O artigo traz recomendações concretas para mitigar os impactos nas áreas alagáveis para as usinas hidrelétricas em fase de operação, construção e planejamento. Para as barragens em operação, os pesquisadores apontam mudanças no modo operacional, de forma que a liberação da água do reservatório simule o regime natural de baixas águas (índice de fluxo de base do período pré-barragem). Enquanto para as barragens em construção, deveriam ser evitadas condições de extrema seca nas áreas alagáveis a jusante durante a instalação, pois isso pode resultar em elevada mortalidade de árvores por falta de água ou por incêndios. “Isso é de extrema importância nos períodos atuais em que mudanças climáticas podem potencializar os impactos devido ao aumento de temperatura e de eventos extremos de secas”, afirma Schöngart.

Para as barragens planejadas, as áreas alagáveis deveriam ser consideradas no Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/Rima), que hoje só leva em conta as áreas que serão impactadas pela construção da barragem e do reservatório. Com base nos estudos sintetizados pelos pesquisadores, o EIA/Rima deveria integrar áreas alagáveis até a confluência com um afluente da mesma ordem de rio sem impactos, ou até a confluência com um rio de ordem superior que amortece as alterações causadas pelo efeito da barragem hidráulica.

“Modelos que permitem simular o nível da água e a descarga do rio deveriam estimar a geração de energia hidrelétrica, condicionada ao modo operacional que simule o regime natural de águas baixas. Isso exige uma reavaliação de muitas barragens planejadas por um consórcio envolvendo os órgãos públicos do governo, cientistas, partes interessadas da sociedade civil, indústria e as agências financeiras para evitar ou pelo menos mitigar os possíveis impactos nas áreas alagáveis”, defendem os pesquisadores.

O estudo também deixa um alerta para a necessidade de políticas públicas eficientes voltadas ao desenvolvimento sustentável da região amazônica: “Precisam avaliar os impactos das barragens planejadas considerando o balanço entre geração de energia e a perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos que afetam as populações indígenas e ribeirinhas tradicionais, em particular, e a sociedade brasileira, em geral”, destacou Schöngart.

Acompanhamento e uso de modernas técnicas

Em 2009, ou seja, 20 anos após a usina iniciar sua operação, os pesquisadores observaram os paliteiros na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uatumã, dezenas de quilômetros a jusante da barragem de Balbina. Isso levou à formulação da hipótese principal do trabalho, de que as árvores morreram por causa da barragem. Os primeiros estudos tiveram início para buscar evidências. Essas atividades foram realizadas pelos participantes do Grupo de Pesquisa Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas (GP MAUA/ Inpa), sob coordenação da pesquisadora Maria Teresa Fernandez Piedade, por meio de vários projetos e cooperações, como o Programa LBA (Experimento de Larga Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia) e PELD (Pesquisa Ecológica de Longa Duração), financiado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), pela Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas) e pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), de forma a permitir uma abordagem sistemática e abordar diferentes componentes da floresta (plântulas, árvores), em nível da espécie de árvore até a escala de paisagem. Os estudos tiveram apoio de parcerias dentro do Inpa (INCT-Adapta, Projeto Atto) e em nível nacional (INCT-Inau, Universidade Estadual Paulista, Universidade de Brasília) e internacional (Instituto Max-Planck de Química em Jena, Instituto Tecnológico de Karlsruhe, ambos na Alemanha), entre outras.

Para testar a hipótese principal e trazer evidências de distúrbios no passado, quando começou a instalação da barragem de Balbina, na década de 1980, os pesquisadores procuraram evidências destes impactos em séries históricas de dados hidrológicos, imagens de satélite e nas informações que as árvores armazenam no seu tronco em forma de anéis de crescimento que podem ser associadas aos anos calendários do passado por meio de datação de radiocarbono e dendrocronologia.

Em paralelo, foram feitos inventários e monitoramentos das florestas de igapó impactados em comparação com igapós sem distúrbios antropogênicos ao longo do rio Abacate, um afluente do rio Uatumã. E os estudos não param. Ainda estão sendo realizados e planejados experimentos em laboratório no Inpa (microcosmos/INCT-Adapta e casa de vegetação) sob condições controladas para obter mais informações sobre as características e respostas de algumas espécies de árvores que dominam os igapós após perturbações.

Após alcançar uma massa crítica de dados, evidências e informações, os pesquisadores elaboraram a síntese que permitiu reconstruir os distúrbios em espaço e tempo desde que a barragem de Balbina começou a ser construída até os tempos atuais. “Mais de dez anos se passaram desde a primeira observação até esta síntese para indicar recomendações concretas às políticas públicas baseadas em vários estudos capacitando alunos de diferentes níveis de formação acadêmica de diversos programas de
pós-graduação do Inpa. A formação de recursos humanos é fundamental para o futuro dos ambientes amazônicos e é um dos mais importantes produtos deste esforço”, destacou a pesquisadora Maria Teresa Fernandez Piedade, que também assina o artigo.

Próximos passos

A Fase 3 do Projeto PELD foi aprovada pelo CNPq e pela Fapeam recentemente, com o título ‘Sítios demonstrativos de ecossistemas de áreas úmidas oligotróficas pristinos e impactados na Amazônia Central: encontrando tendências e preenchendo lacunas’. Nesta fase serão testadas algumas hipóteses formuladas na síntese elaborada, e os estudos integrarão outros componentes, como epífitas, relações entre árvores e fungos, árvores e peixes e impactos socioambientais.

O objetivo é criar um sítio demonstrativo que possa fornecer para vários grupos da sociedade (cientistas, gestores ambientais, tomadores de decisão, ensino de diversos níveis, populações tradicionais e outros) um conhecimento científico integrado sobre a biodiversidade e as inter-relações de componentes-chave da biota, sobre processos e serviços ecossistêmicos, integrando também aspectos socioambientais e políticas públicas.

Da Ascom/Inpa

Foto e imagem: Jochen Schöngart

Médico é o profissional em quem os brasileiros mais confiam

Qual o profissional em quem você mais confia e acredita? Com essa pergunta em mãos, o Instituto Datafolha foi às ruas para saber o grau de confiabilidade da população brasileira em diferentes categorias de trabalhadores. O resultado confirmou os médicos, com 35% de aprovação, como aqueles que são depositários de maior grau de confiança e credibilidade por parte da população. Na segunda posição, aparecem os professores, com 21%, e os bombeiros, com 11%.

O mesmo levantamento indica que a situação provocada pela Covid-19, em que informações desencontradas têm deixado a população insegura, contribuiu para o aumento do percentual de confiabilidade dos médicos. Na pesquisa anterior, realizada em 2018, também pelo Datafolha a pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM), os médicos tinham um índice de 24%, que agora cresceu nove pontos percentuais.

Atrás de médicos, professores e bombeiros, aparecem policiais (5%), militares e juízes (cada categoria com 4%) e advogados, jornalistas e engenheiros (3%, cada). Na sequência, surgem os procuradores de Justiça (com 1%) e os políticos (com 0,5%). A pesquisa ouviu 1.511 pessoas, com 16 anos ou mais, em entrevistas estruturadas por telefone, de todas as regiões do país. A amostra contemplou a distribuição da população segundo sexo, classes sociais e níveis de escolaridade.

Boa imagem

O alto nível de confiança e credibilidade depositado nos médicos se deve, principalmente, à percepção das mulheres (42%), da população com ensino fundamental (42%) e com idade a partir de 45 anos (37%). A boa imagem da categoria também é maior entre os que ganham até dois salários mínimos (41%) ou mais de 10 salários mínimos (33%). Do ponto de vista da distribuição geográfica, os percentuais são muito próximos, com ligeiro destaque para os estados do Nordeste (37%) e Sul (38%).

Os dados coletados pelo Datafolha ainda permitiram captar qual a percepção dos brasileiros com respeito à atuação dos médicos brasileiros no enfrentamento da pandemia de Covid-19. Na opinião de 77%, o trabalho desses profissionais é considerado ótimo ou bom. Outros 17% consideram essa performance como regular e apenas 6% como ruim ou péssimo.

As mulheres (78%), a população com idades de 45 a 59 anos (82%), os com nível superior (81%) e com rendimento maior do que dez salários mínimos (78%) são os segmentos que se destacam no que se refere à imagem positiva dos médicos. Geograficamente, o bom conceito não apresenta grandes variações por região, ficando, em média, em 76%.

Pandemia

Essa avaliação do trabalho dos médicos durante a pandemia vem amparada em percepções específicas. Por exemplo, 79% dos brasileiros avaliam como ótimo ou bom o empenho dos profissionais para atender os pacientes, e 73% classificam da mesma forma a qualidade da assistência oferecida. Para 64%, o nível de confiança depositada no trabalho realizado durante a pandemia é alto.

Por outro lado, 49% dos brasileiros acreditam que o trabalho do médico não tem recebido a valorização merecida, considerando-a como regular, ruim ou péssimo. Já 65% avaliam com esses mesmos conceitos as condições de trabalho oferecidas aos médicos, ou seja, entendem que o trabalho desses profissionais tem sido prejudicado por falta de infraestrutura.

De forma geral, independentemente do período da pandemia, os brasileiros mantêm o entendimento de que os médicos são vítimas de problemas de gestão. Para 99% dos entrevistados, esses profissionais carecem de condições adequadas para o pleno exercício de suas atividades. Já na percepção de 95%, eles merecem ser alvos de medidas de valorização, como maior remuneração e plano de carreira.

Foto: Hamilton Viana / Pixabay