O médico destaca que o câncer de colo de útero é um dos poucos tumores malignos que se consegue prevenir, diferentemente do câncer de mama e de próstata, os quais não podem ser evitados, mas podem ser detectados precocemente, em exames que diagnosticam tumores pequenos, e tratados de maneira curativa e menos agressiva, com índices elevados de cura.
Causas
O câncer de colo de útero está relacionado a três situações, onde a atividade sexual é um fator preponderante no desenvolvimento desse câncer, conforme explica William Fuzita: a atividade sexual precoce; a promiscuidade (vários parceiros); e a prevenção.
Segundo o oncologista clínico, a orientação e educação sexual na família e na escola tem papel fundamental na prevenção de diversas doenças sexualmente transmissíveis, entre as quais a infecção pelo Papilomavírus Humano, o HPV, responsável por 99% dos casos de câncer de colo de útero, que pode ser causa também para câncer de pênis, anal, cabeça e pescoço, os quais são outros tipos de câncer que também podem ser prevenidos, a partir da proteção contra o vírus HPV.
A definição de promiscuidade, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são três parceiros diferentes por ano. Então se a pessoa teve três parceiros diferentes por ano, essa promiscuidade pode abrir uma porta para o câncer, alerta o médico, porque o contato sexual transmite um vírus, intimamente relacionado ao câncer de colo de útero, que é o vírus HPV.
E o terceiro ponto, refere-se à prevenção, pois para o câncer de colo de útero se desenvolve através da infecção do vírus HPV, que pode demorar anos, até mesmo décadas, para a se apresentar e se desenvolver em câncer de colo de útero.
Então, alerta William Fuzita, se a pessoa começou a atividade sexual muito cedo, se a pessoa expôs muito cedo ao vírus HPV, consequentemente, pode desenvolver mais cedo câncer de colo de útero.
O médico aponta que falta orientação, educação sexual na escola ou na família. “A criança tem de saber como pega esse vírus e que esse vírus pode causar esse problema”, enfatiza Fuzita. E destaca a necessidade de meninos usarem preservativos e para as meninas, assim que comece a atividade sexual, procurar ginecologista para fazer acompanhamentos anuais com exame de Papanicolau.
Dr. William Fuzita destaca que os casos de câncer de colo de útero poderiam ser prevenidos por meio de orientação e acompanhamento corretos (Foto: Jander da Silva Souza)
Exames
A qualidade do exame Papanicolau é fator primordial, pois a amostra de tecido coletada depende de condições de umidade, temperatura, local de armazenamento, para se manter adequada para a análise. “Se a amostra for guardada em local adequado pode durar mais tempo para ser analisada, mas de outra forma não se terá um material em condições para ser analisado. E o exame de Papanicolau permite prevenir e diagnosticar o câncer, mas se for feito de maneira incorreta não vai servir para nada”, alerta o oncologista. Para o médico, o ideal é receber o resultado do exame em menos de duas a três semanas.
“O exame de Papanicolau permite prevenir e diagnosticar o câncer. É a melhor forma de rastreio, porque é o mais simples, o mais barato, e que mostra todas as alterações por avaliar como está o tecido do colo do útero”, avalia William Fuzita. E acrescenta que com o exame é possível observar alterações pré-malignas, as lesões com características pré-neoplásicas ou neoplásicas, pois se tiver células com característica tumoral, já se saberá que tem um tumor e que precisa ser tratado de imediato, conforme sua apresentação. E tem tratamento, que impede o desenvolvimento de câncer de colo de útero.
O crescimento celular não controlado, a Neoplasia, explica Fuzita, pode ser detectado pelo Papanicolau nas fases pré-neoplásica e neoplásica. No caso da fase pré-neoplásica, um ginecologista com treinamento tem condições de resolver o problema, com cauterização, ou uso de substâncias ácidas, ou procedimentos cirúrgicos como a conização ou até mesmo observar apenas. E no caso da fase neoplásica, do tumor já constituído, a paciente deve procurar um especialista em oncologia, um ginecologista ou um cirurgião.
As lesões são classificadas como Neoplasias Intraepiteliais cervicais (NICs), em graus NIC 1, NIC 2 e NIC 3 (neoplasia intraepitelial cervical leve, moderada e grave, respectivamente).
Na classificação NIC 1, 80% a 100% dos casos podem regredir espontaneamente, eliminados pelo sistema imunológico, apenas uma pequena percentagem de casos evolui para um câncer cervical, deve ser feito acompanhamento médico, orienta o oncologista.
As classificações NIC 2 e NIC 3 apresentam alta probabilidade de progredir para neoplasia invasiva. No grau NIC 2, deve ser feito acompanhamento e procedimentos como a remoção das células neoplásicas por cauterização, ou pequena cirurgia para retirada apenas da área lesionada, ou observação estreita.
E no grau NIC 3, com certeza, explica o médico, deve ser feito um procedimento cirúrgico chamado conização, onde uma parte em forma de cone da área afetada é retirada. Todos esses procedimentos não permitem que o câncer se desenvolva no colo do útero.
Saúde Pública
“Tem a questão do sistema de saúde, principalmente o Sistema Único de Saúde (SUS), do governo federal, que com os impostos pagos, oferece à população serviços de saúde, e esta deve ter uma atenção relacionada ao câncer. O sistema de saúde precisa desenvolver procedimentos e campanhas, mas que possam ser feitos exames e entregues em tempo hábil. Pois não se pode fazer um Papanicolau e receber o resultado seis meses depois. Foi feita a avaliação correta? Foi armazenado da maneira correta? Quanto tempo depois que coletou foi analisado? Porque tudo isso influencia no resultado”, questiona o oncologista.
E alerta que se o material coletado for analisado 1 ou 2 meses após a coleta, com certeza, essa análise não é mais tão real, pois o material é biológico, é tecido humano, então estraga, necrosa.
O médico critica ainda a qualidade das campanhas realizadas. “É campanha, mas tem de analisar o desempenho dessas campanhas. Se está sendo efetiva, se tem qualidade. No Brasil, muitas campanhas são realizadas, todos saem na foto no jornal, passa na televisão, no rádio, tem discurso nos legislativos do município e do estado, mas é preciso ver o resultado, deve ter acompanhamento, saber se o resultado está sendo efetivo”, aponta Fuzita.
E enfatiza que é preciso saber quantos exames foram positivos para o câncer? Para onde foram encaminhadas essas pacientes? Fizeram o tratamento? Isso impacta no controle da doença, precisa de organização.
Segundo estimativa do INCA, são 680 novos casos de câncer de colo de útero e 440 novos casos de câncer de mama, em 2016, no Amazonas. “E são casos que poderiam ter sido prevenidos se orientados, acompanhados de forma correta desde quando inicia a vida sexual”, finaliza.