Expedição na bacia do rio Branco busca identificar se peixes estão contaminados por mercúrio

Para tentar revelar os níveis de contaminação dos peixes por mercúrio e riscos ao consumo humano, uma equipe multidisciplinar formada por profissionais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) realizou uma expedição para coletar amostras de peixes e de água na bacia do rio Branco, em Roraima, no período de 29 de outubro a 9 de novembro de 2018.

Os trabalhos foram coordenador por Bruno Souza do ICMBio e Fabíola Domingos Moreira, do Inpa. Foram coletados peixes nos rios Branco, Mucajaí e Uraricoera, incluindo a compra de pescado nos mercados de peixe das cidades de Caracaraí e Mucajaí. Mais de 2 mil amostras de tecidos, escamas, nadadeiras, sangue e órgão vitais foram coletados de 240 peixes. O resultado sobre a possível contaminação dos peixes por metais pesados deve sair em 180 dias.

Conforme o pesquisador Romério Bríglia, do ICMBio/RR, a pesca é uma atividade importante no estado, com mais de 6 mil pescadores profissionais atualmente em atividade, sendo esta uma fonte expressiva de alimento e de renda em Roraima.

“A pesquisa é importante pois irá avaliar a presença de mercúrio e a ocorrência de efeitos prejudiciais à saúde dos peixes, sendo que essa contaminação pode refletir em redução do pescado para a população”, destacou Fabíola Domingos Moreira.

De acordo com o analista ambiental Bruno Souza, o estudo contribuirá para a implementação de um protocolo de monitoramento de metais pesados. “Esse protocolo será fundamental para a conservação dos ambientes aquáticos da
Amazônia e manutenção da qualidade do pescado da região”, ressaltou.

O metal pesado mercúrio é utilizado no garimpo de ouro sendo liberado no ambiente e atingindo os rios e igarapés. Estudos anteriores realizados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já revelaram que parte da população
Yanomami que vive nas proximidades das áreas de garimpo já se encontra contaminada por mercúrio.

O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica (Cepam) do ICMBio, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Instituto de Amparo à Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de Roraima (IACTI-RR), a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) são instituições parceiras da iniciativa que foi financiada com recursos do Ministério do Meio Ambiente por meio do Programa ARPA – Áreas Protegidas da Amazônia.

Histórico

Roraima tem uma característica única: é banhado quase que exclusivamente por uma só bacia hidrográfica, a bacia do rio Branco. Historicamente, o Estado tem enfrentado ondas de crescimento da atividade garimpeira ilegal em seus domínios, principalmente em terras indígenas, e à montante da capital, Boa Vista, que concentra mais de 65% da população residente no Estado.

No final dos anos 1980 do século passado, ocorreu um boom dessa atividade, quando mais de 30 mil garimpeiros adentraram na área que seria homologada como terra indígena Yanomami apenas em 1992, quando se decidiu pela
retirada dos garimpeiros e a explosão das pistas de pouso que apoiavam a atividade. Mas de alguns anos pra cá a área foi novamente invadida e o garimpo recrudesceu, agora com mais intensidade, e com o uso de máquinas e
tratores com um potencial de alterar os ambientes de forma ainda mais devastadora. A preocupação com o retorno do garimpo está em saber quais seriam os reais impactos dessa atividade para o meio ambiente e para as populações locais.

Foto: Fabiola Valdez/Inpa

Núcleo do Inpa em Rondônia e ICMBio iniciam nova fase de atividades em Unidades de Conservação

Com foco na implantação de ações sustentáveis, que garantam a melhoria da qualidade de vida e a harmonia na gestão das Unidades de Conservação (UC), moradores de comunidades da região do Vale do Guaporé participaram de oficinas com o Núcleo de Apoio à Pesquisa do Inpa em Rondônia (Napro) e com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). A ação é realizada por meio do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) das Reservas Extrativista (Resex) do Rio Cautário e Reservas Biológicas (Rebio) do Guaporé.

Entre os dias 25 e 28 de setembro, as entidades realizaram duas oficinas com moradores da Resex Federal do Rio Cautário e com moradores da Resex Estadual do Rio Cautário. Já na Rebio Guaporé, o público alvo foi a comunidade quilombola Santo Antônio do Guaporé, que existe desde o século 18.

No encontro com as duas reservas extrativistas ficou acertada a realização de capacitações voltadas para exploração sustentável dos recursos naturais, incluindo curso de boas práticas na produção de farinha de mandioca, e a implantação de sistemas agroflorestais com espécies frutíferas regionais e essências florestais. Essa tendência está fundamentada no extrativismo e no cultivo de mandioca para a produção de farinha, a base da economia local.

Na comunidade quilombola, que também tem como principal fonte de renda a farinha de mandioca, foram agendadas capacitações de boas práticas na produção do alimento e o curso de agroecologia, que deverá enfatizar o manejo e a conservação do solo, com a finalidade de otimizar o uso das áreas de plantio, evitando a pressão para abertura de novas áreas.

Ações anteriores

A integração Inpa/Napro e ICMBio já possui resultados relevantes, como a implantação de Unidades Demonstrativas de Sistemas Agroflorestais, a capacitação de produtores em ações sustentáveis com destaque para a exploração de produtos florestais não madeireiros, além da implantação de um viveiro comunitário e da criação da associação de moradores do rio Umari, no entorno do Parque Nacional Manguari, em Lábrea (AM).

As ações dessa parceria estão sendo coordenadas pela analista ambiental Lidiane França da Silva, representante do NGI/ICMBio Rio Cautário e Rebio Guaporé, e pelo técnico e doutor em Botânica Raimundo Cajueiro Leandro, chefe do Napro, além da participação do também analista Rafael dos Santos Rocha, coordenador do NGI Cautário/Guaporé.

Foto: Mácio Ferreira/Ag. Pará (via Fotos Públicas)