We’e’ena é resistência indígena na passarela da semana de moda Brasil Eco Fashion Week

Por Lenise Ipiranga

A coleção de We’e’ena Tikuna Arte Indígena com grafismos e o tecido vegetal de Tururi, típicos da cultura do povo Tikuna, originária da Aldeia de Umariuaçu, no município de Tabatinga, no estado do Amazonas, na região do alto Rio Solimões, Região Norte, estará novamente na passarela da quarta edição da semana de moda Brasil Eco Fashion Week (BEFW), reconhecido como o maior encontro de moda e sustentabilidade da América Latina, que neste ano acontecerá em formato on-line, de 18 a 22 de novembro, com a exibição de desfiles de 16 marcas, vindas de todas as regiões do Brasil.

“Estou muito feliz de mostrar mais uma vez a nossa moda indígena, porque toda arte é forma de resistência para nós, povos indígenas. E eu quero dar essa visibilidade à nossa cultura, principalmente à mulher”, anunciou We’e’ena Tikuna, nome que significa “a onça que nada para o outro lado no rio”, artista plástica formada pelo Instituto Dirson Costa de Arte e Cultura do Amazonas – IDC, em dezembro de 2004, com diversas premiações e exposições já realizadas e dedicada ao trabalho de inclusão social dos povos indígenas por meio da sua arte.

A convite feito pelo diretor executivo da Brasil Eco Fashion Week 2020, Rafael Morais, We’e’ena Tikuna apresentará a coleção Tururi, que tem um pouco do contemporâneo e também da sua ancestralidade. “Eu apresento no desfile a coleção Tururi, um tecido nativo de fibra de madeira do meu povo, o qual utilizamos há milhares de anos, como cobertor, absorvente, toalha. E levarei para a passarela para que todos possam conhecer o que meu povo usa”, ressalta a estilista, sobre as peças de vestuário em tecido vegetal da sua coleção.

“Posso ser quem você é sem deixar de ser quem eu sou”

We’e’ena aponta que ao se falar em moda indígena e inclusão social, ela destaca a Brasil Eco Fashion Week, por ter incluído a coleção da Arte Indígena. “Muitas marcas ou grifes tem o uso de alguma simbologia indígena, mas nunca é o indígena o seu próprio protagonista”, frisa We’e’ena. E lembra que “por muito tempo o povo indígena foi tutelado e agora chegou a vez de mostrar que somos capazes de protagonizar nossa própria história. Por isso quero dar voz à moda autoral indígena”.

A artista plástica ressalta a importância de participar de um evento nacional de moda e representar seu povo, sua ancestralidade, sua Amazônia, como forma de valorizar e dar visibilidade à história e cultura dos povos indígenas e, assim, tentar diminuir o preconceito e a desinformação sobre seu povo. “O indígena é sempre visto de maneira pejorativa. Nosso povo é um povo ágrafo (que não se expressa por meio da escrita), a nossa história sempre foi passada de pai para filho pela oralidade (uso falado de uma língua, característica dos povos ágrafos), por isso muitas pessoas não conhecem ou conhecem e pensam que não existem mais indígenas”, esclarece a indígena Tikuna.

We’e’ena destaca uma citação do líder indígena Marcos Terena, de que “posso ser quem você é sem deixar de ser quem eu sou”. E enfatiza que esse é o momento de cumprir essa missão de levar para o mundo da moda, da arte, a resistência, a visibilidade da cultura dos povos indígenas. “E o Brasil Eco Fashion abriu essa porta para mostrar que o indígena está incluído, não está excluído. Sinto-me muito honrada em poder representar nossa história e nossa arte”, concluiu a estilista.

Quarta Edição

“Este ano está sendo um desafio adaptar o evento, o qual requer uma programação on-line menor do que na versão física. É desafiador replanejar e rever o que estávamos acostumados a fazer”, destaca Rafael Morais, diretor executivo da semana de moda Brasil Eco Fashion Week (BEFW). Ele acredita que no universo on-line o evento atingirá outros públicos, de pessoas que não conseguiam acompanhar presencialmente a programação do evento. “A palavra é adaptação”, frisa.

A BEFW chega em sua quarta edição, segundo Morais, com pontos muito positivos dos três anos anteriores de um evento anual, nacional, que trabalha no segmento da moda, da sustentabilidade e do consumo consciente. A semana de moda baseia-se em três pilares: o setor de desfiles – com a oportunidade de uma passarela para os empreendedores e marcas; o showroom – a feira dos expositores, com a possibilidade de comercialização de peças; e o setor de conteúdo – com debates, apresentação de inovações, projetos, propostas. “Para tudo funcionar, entendemos que é necessário mobilizar os consumidores e investidores (players de mercado), jogando luz aos assuntos e aos temas relacionados à proposta do nosso evento”, avalia o diretor executivo. Na última edição, de 2019, foram 70 atividades, 15 workshops e 5 palcos.

Rafael Morais destaca o desafio de adaptar o evento ao formato on-line em tempos de pandemia | Fotosite

“O evento preza tanto pela inclusão de marcas de moda do segmento ecológico e em dar espaço a essas empresas, com também sempre abraçou a diversidade, a pluralidade, das marcas e da equipe de trabalho”, ressalta Rafael Morais, ao falar que o evento sempre contou com um elenco de modelos (casting) muito diverso, além das marcas inscritas ou convidadas. As inscrições são realizadas por meio de edital, com curadoria e curadores para cada setor, para ampliar o olhar da diversidade.

O objetivo é oferecer a oportunidade de uma passarela para marcas que não tenham essa possibilidade, explica Morais, como a moda indígena da We’e’na Tikuna, a moda inclusiva e novos modelos de negócios – como ocorreu no ano passado com desfile da loja multimarcas Bemglô, uma plataforma pioneira de consumo sustentável idealizada pela atriz Glória Pires e amigos; e da loja de aluguel de roupas Roupateca –, e neste ano contará com a participação de uma cooperativa, a Justa Trama, de Porto Alegre com a cadeia produtiva de algodão do Ceará e Mato Grosso do Sul.

Entre outras marcas selecionadas este ano, além da convidada We’e’ena Tikuna Arte Indígena, da região do alto Rio Solimões-Amazonas, estarão na BEFW a Catarina Mina, estreante com roupas em renda de bilro, do projeto de 120 artesãs do Ceará, que sempre participou do evento com bolsas e acessórios feitos à mão; da Paraíba, a Natural Cotton Color, referência em algodão orgânico naturalmente colorido; do Rio Grande do Sul, a Nuz Demi Couture, de peças com modelagens múltiplas; de São Paulo, o estilista e alfaiate Leandro Castro, com moda produzida com tecidos de reuso; e de Belo Horizonte, a estreante Libertées, que iniciou como projeto social de capacitação de mulheres detentas; de Brasília, Flávia Amadeu vai apresentar biojoias feitas em látex natural da Amazônia desenvolvido junto a comunidades seringueiras locais. As marcas escolhidas passaram por processo de curadoria e representam as cinco regiões do país.

As inscrições para o público já estão abertas no site, pelo link: https://brasilecofashion.com.br/participe/

Serviço:
Brasil Eco Fashion Week – 4a edição
Formato Online
18 a 22 de novembro

Canais do evento:
Site: brasilecofashion.com.br
Instagram: @brasilecofashionweek
Linkedin: Brasil Eco Fashion Week