Brasileira é premiada pelo Mulheres Líderes em Aprendizado de Máquina para Observação da Terra

Diretora de Ciência no Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e especialista em fogo nos biomas Amazônia e Cerrado, a Dra. Ane Alencar foi premiada, pela passagem do Dia Internacional da Mulher, 8 de março, pelo 2022 Leading Women in Machine Learning for Earth Observation – em português, Mulheres Líderes em Aprendizado de Máquina para Observação da Terra em 2022 -, organizado pela Fundação Radiant Earth, com sede em Washington e São Francisco (EUA). Esta é a primeira vez que a iniciativa nomeia uma pesquisadora latino-americana.

“Me sinto muito honrada em receber esse reconhecimento. Isso é fruto de um trabalho bem importante que temos conduzido ao longo dos anos, estudando o padrão dos incêndios florestais na Amazônia e mais recentemente na rede Mapbiomas”, comemora Alencar, que coordena as plataformas MapBiomas para o bioma Cerrado e o MapBiomas Fogo. Em rede com instituições, universidades e empresas de tecnologia do Brasil e do mundo, o MapBiomas é uma iniciativa pioneira que usa dados de satélite para revelar as principais mudanças de uso da terra no país.

Natural de Belém, no Pará, Ane Auxiliadora Costa Alencar é graduada em Geografia pela Universidade Federal do Pará (UFPA); tem mestrado em Sensoriamento Remoto e Sistema de Informação Geográfica, pela Universidade de Boston; e doutorado em Recursos Florestais e Conservação, pela Universidade da Flórida, ambas nos Estados Unidos. Há mais de duas décadas, seu foco é entender os impactos das mudanças climáticas e da fragmentação florestal causadas pelo desmatamento e pela a ocorrência e aumento dos incêndios florestais na Amazônia brasileira e no Cerrado.

Dra. Ane Alencar em expedição científica que acompanhou combate a incêndios ambientais nos biomas Cerrado, Pantanal e Amazônia, no estado de Mato Grosso, em 2020 (Foto: Ivan Canabrava/lluminati Filmes/IPAM/Woodwell)

Destaque na premiação é o conceito de “Cicatrizes do Fogo”, criado por Alencar, em 1996, ao definir áreas afetadas por incêndios florestais na Amazônia nas imagens de satélite impressas. “Sua descoberta inovadora e mapeamento do fogo na Amazônia”, cita a Radiant Earth, levaram à criação da plataforma MapBiomas Fogo, sistema de validação e refinamento de alertas de desmatamento, com imagens de alta resolução para mapeamento anual das cicatrizes de fogo no Brasil, a partir de 1985.

No Ipam, a diretora coordena iniciativas de desenvolvimento de sistemas de monitoramento de estoque, de perda de carbono florestal e de desmatamento, a fim de subsidiar discussões a respeito de políticas públicas, que fomentem a redução de emissões por desmatamento e por degradação florestal.

Além da brasileira, foram selecionadas pesquisadoras da Austrália, Estados Unidos, Nepal, Rússia, Taiwan e Quênia, cujas contribuições científicas têm impacto global no melhoramento do uso de aprendizado de máquina para observação do planeta e sensoriamento remoto.

“Por essa razão, celebramos as mulheres na vanguarda do ML4EO [Machine Learning for Earth Observation]: aquelas que estão jogando luz em nossos padrões e nos ajudando a tomar decisões baseadas em dados”, ressalta a fundação organizadora do prêmio.

Fotos: Ivan Canabrava/lluminati Filmes/IPAM/Woodwell

AmazonFACE lança livro no Inpa sobre riscos das mudanças climáticas para a Floresta Amazônica

O programa AmazonFACE lançará no dia 6 de fevereiro o livro “Floresta em risco – as mudanças climáticas destruirão a Floresta Amazônica?”, de autoria do jornalista norte-americano Daniel Grossman e do pesquisador da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente do comitê científico do programa, David Lapola. O evento acontecerá às 16h, no Paiol da Cultura do Bosque da Ciência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), que fica na rua Bem-te-vi, s/nº, Petrópolis, zona Sul de Manaus.

O AmazonFACE (Free Air CO2 Enrichiment) é um Programa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) executado pelo Inpa, que busca entender os impactos das mudanças do clima e do aumento de gás carbônico atmosférico sobre a maior floresta tropical do mundo.

De acordo com o Lapola, o livro discute como as mudanças climáticas podem afetar a Floresta Amazônica, tendo o programa AmazonFACE como pano de fundo para abordar o tema através fotos, ilustrações e textos em linguagem não-científica, em português e inglês. O AmazonFACE lançou recentemente um estudo na conceituada revista PNAS (periódico científico editado pela Academia de Ciência dos Estados Unidos) mostrando que uma possível savanização da floresta Amazônica causada por mudanças climáticas impactaria vários diferentes setores da sociedade na região.

“Portanto, o assunto é de interesse do grande público, tanto no Brasil como no exterior, e não apenas uma peça de curiosidade científica. Levar esse assunto para a sociedade, sobretudo a Amazônica, é dever dos cientistas do programa”, explica o ecólogo David Lapola.

As fotos do livro são de autoria do fotógrafo de natureza João M. Rosa, desenhos do ilustrador biológico Rogério Lupo e prefácio pelo jornalista da Folha de S. Paulo, Marcelo Leite.

A obra foi produzida com recursos destinados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e será distribuída gratuitamente aos 100 primeiros participantes que se cadastrarem no endereço https://goo.gl/forms/LlIdpG2MQufP1eio2 para participar do lançamento.

Participarão do lançamento os autores do livro Daniel Grossman, David Lapola e o fotógrafo João Rosa. A abertura contará com uma breve palestra proferida pelos autores sobre o processo de produção do livro. Uma pequena parte do conteúdo do livro vem sendo exibida desde setembro último no próprio Paiol da Cultura com a exposição “Amazônia e Mudanças Climáticas – um futuro em fotos, ilustrações e ciência”, que segue até 10 de fevereiro.

O livro de 64 páginas teve uma primeira tiragem de 500 exemplares e, após o evento, será distribuído para universidades e escolas de ensino médio da região amazônica. A versão e-book do livro estará disponível no site do programa AmazonFACE.

SERVIÇO

Assunto: Lançamento do Livro “Floresta em Risco” de D. Grossman e D. M. Lapola

Data: 06/02/2019 (quarta-feira)

Horário: 16h

Local: Paiol da Cultura do Bosque da Ciência do Inpa. Endereço: rua Bem-Te-Vi, s/nº, Petrópolis, Manaus-AM

Foto: João Marcos Rosa/AmazonFACE

Novo projeto da Natura traz incentivo para conservação da floresta na região amazônica

A indústria de cosméticos Natura lançou o projeto Carbono Circular (Carbon Insetting), desenvolvido para conter o desmatamento na Amazônia e estimular o papel do agricultor familiar para a conservação da vegetação local, o primeiro que gera pagamento pela compensação de carbono dentro de sua cadeira produtiva. O projeto remunera as famílias de pequenos agricultores não apenas pela compra de insumos e repartição de benefícios, mas também pelo serviço de conservação ambiental.

A iniciativa faz parte do Programa Carbono Neutro, que há mais de dez anos busca inventariar, reduzir e compensar as emissões de gases de efeito estufa ao longo de toda a sua cadeia de produção.

O projeto foi feito, inicialmente, em parceria com a Cooperativa de Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado (Reca), que reúne produtores rurais de Porto Velho (RO) e regiões de entorno no Acre e no Amazonas. Com o pagamento por serviços ambientais dentro da própria cadeia, prática conhecida como carbon insetting, a Natura busca atuar com as comunidades integrando três frentes: compra de insumos, repartição de benefícios por acesso ao conhecimento tradicional/patrimônio genético e conservação florestal. Com isso, a empresa busca ampliar o relacionamento com as comunidades fornecedoras de ativos da sociobiodiversidade na região e reforçar que é economicamente viável conciliar atividades produtivas e manutenção da floresta em pé – quanto menor o desmatamento registrado na área, maior o retorno financeiro dos produtores rurais pelos serviços ambientais.

Carbono Circular

O projeto Carbono Circular iniciou-se na Cooperativa Reca, fornecedora de ativos para a linha Ekos desde 2001 e localizada em uma das regiões brasileiras com maior pressão por desmatamento tanto da pecuária quanto para exploração madeireira. Por essa razão, em 2013, a área foi escolhida para o projeto piloto, desenvolvido em parceria com o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam).

Entre 2013 e 2016, a taxa de desmatamento do entorno registrou média de 1,9% ao ano, enquanto as 126 propriedades participantes do projeto registraram taxa de 0,93% – menos da metade da taxa de desmatamento observada no entorno. Isso significa que houve conservação equivalente a aproximadamente 190 campos de futebol no período, evitando assim a emissão de 104 mil toneladas de gás carbônico na atmosfera.

“Os lotes e propriedades rurais que fazem parte do Projeto Reca geraram significativa contribuição para a conservação florestal, ajudando a consolidar a economia local e evitando a abertura de áreas de floresta nativa para a expansão de pastagens e produção pecuária”, explica Keyvan Macedo, gerente de sustentabilidade da Natura. A iniciativa cria um círculo virtuoso, porque traz renda extra para os fornecedores dos ingredientes e aumenta a resiliência da cadeia. “Temos como objetivo replicar o modelo em outras comunidades da região Amazônica”, completa Keyvan.

O pagamento por esse serviço ambiental, referente ao acumulado no período entre 2013 e 2016, foi equivalente ao que a Natura pagou pela compra de insumos fornecidos pela Reca no período (cerca de R$ 2 milhões). Em 2017, a Reca recebeu o primeiro pagamento por assumir o compromisso de preservar uma área de 5 mil hectares de floresta. O repasse de recursos – que é feito tanto individualmente para as famílias de agricultores quanto para um fundo da cooperativa – é condicionado à entrega anual de emissões auditadas por uma terceira parte, independente.

A partir deste ano, e durante os próximos 20 anos, o monitoramento das áreas e o pagamento serão feitos anualmente. O objetivo é que, ao longo desse período, a taxa de desmatamento na Reca caia a zero e que outras áreas possam seguir o mesmo modelo, evidenciando que é possível criar um modelo replicável para outras regiões da Amazônia voltados para conservação florestal e à produção sustentável.

A metodologia desenvolvida para o trabalho com a Reca está sistematizada e é pública. Desta forma, a iniciativa pode ser reproduzida e aplicada por outras empresas, organizações e cooperativas que queiram contribuir para a conservação de áreas florestais.

Foto: Pedro Devani/SecomAC/Fotos Públicas