Estudantes de Barreirinha transformam Amazônia em sala de aula e serão representantes do Brasil em conferência na Itália

Dados do Censo Escolar de 2018, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), apontam que 56% das escolas de Ensino Médio não têm laboratório de ciências. A Escola Professora Maria Belém, em Barreirinha (AM) – pequeno município localizado no coração da Amazônia – faz parte dessa estatística. Chamando a atenção para essa realidade, alunos do 3º ano do Ensino Médio pensaram em uma solução simples, porém extremamente criativa: levar a sala de aula para fora dos muros da escola. Era o início do projeto “Amazônia, um laboratório natural“, um dos premiados na 5ª Edição do Desafio Criativos da Escola, de 2019, iniciativa do Instituto Alana.

Com o objetivo de transpor os livros e dinamizar o tempo de estudo, cinco alunos se reuniram com o professor de biologia para propor alternativas para as atividades práticas na escola. Em pouco tempo, os jovens perceberam que tinham à disposição o maior laboratório natural do mundo: a Floresta Amazônica. Depois de se apropriarem dos temas que poderiam ser usados como fonte de estudos, 25 alunos viajaram de barco até a comunidade vizinha de São Francisco do Paraná do Moura. Lá, divididos em grupos, pesquisaram sobre diferentes temas, tais como os tipos de água, os habitat, as florestas primária e secundária, os aspectos das diversas plantas e os tipos de serpentes.

Além de evidenciar a falta de laboratório na escola, o sucesso da experiência transformou a percepção da turma e melhorou significativamente a absorção dos conteúdos de disciplinas como física, química e biologia. Durante todo o projeto, o grupo contou com o apoio do professor, que contribuiu com soluções para as dúvidas que surgiam e, posteriormente, ajudou na organização dos debates. A iniciativa foi multiplicada para outras turmas do “Maria Belém”, que se inspiraram no primeiro teste e passaram a ocupar outros espaços não formais e torná-los extensões das salas de aula.

De Barreirinha para Roma!

Agora, três estudantes e um professor orientador da iniciativa embarcam, em novembro, para Roma, na Itália, com a equipe do Criativos da Escola. Como parte da premiação deste ano, os sete grupos premiados participarão da Conferência Global “Eu Posso” (I Can) – com a presença do Papa Francisco, de artistas e demais lideranças mundiais – onde vão compartilhar suas experiências de protagonismo, empatia, criatividade e trabalho em equipe para outros 2 mil estudantes de todo o mundo. Além da imersão, o grupo ganhará também o valor de R$ 1.500 para o projeto e R$ 500 para o educador.

A novidade desta edição fica por conta da viagem de premiação ser internacional: uma imersão em Roma, na Itália, no final de novembro, irá reunir mais de 2 mil crianças e jovens de países integrantes do movimento Design for Change – do qual o Criativos da Escola faz parte.

“Os sete projetos representarão um movimento de crianças e jovens de todo o Brasil que nos apresentam a beleza e a força de soluções coletivas, inovadoras e solidárias para os desafios de seus territórios e para os problemas que mais os incomodam em suas realidades. Estamos muito felizes em divulgar estas iniciativas que irão mostrar para o mundo não só projetos incríveis, mas também a necessidade de olharmos para as questões abordadas por cada um deles e para os direitos que deveriam ser garantidos para toda a sociedade”, comemora o coordenador do Criativos da Escola, Gabriel Maia Salgado.

Sobre o Instituto Alana

O Instituto Alana é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que aposta em programas que buscam a garantia de condições para a vivência plena da infância. Criado em 1994, é mantido pelos rendimentos de um fundo patrimonial desde 2013. Tem como missão “honrar a criança”.

Foto: divulgação

Instituto Brasileiro de Biodiversidade lança portal sobre bioinvasão

O Projeto Coral-Sol, do Instituto Brasileiro de Biodiversidade – BrBio, lança, no dia 3 de abril, às 18h, a Plataforma Brasileira de Bioinvasão – Bioinvasão Brasil. Inédita e gratuita, essa plataforma tem por objetivo reunir e disponibilizar registros de espécies exóticas invasoras marinhas para a sociedade. O evento de lançamento acontece na sede da Associação de Amigos do Jardim Botânico (AAJB).

“A plataforma será lançada inicialmente com dados gerados pelas ações de monitoramento do Projeto Coral-Sol, realizadas em diversos pontos da costa do estado do RJ. Ao longo do tempo, vamos incluir registros das outras espécies exóticas invasoras marinhas no Brasil e contamos com a participação de todos aqueles que queiram fazer parte desta iniciativa”, explica Fernanda Casares, coordenadora do Projeto Coral-Sol.

A bioinvasão é uma questão séria, e representa um dos fatores que mais ameaça a biodiversidade global. No Brasil, o coral-sol é um potente bioinvasor que compete com espécies nativas, produz substâncias químicas nocivas à flora e à fauna marinha locais, causando impactos ecológicos e socioeconômicos, uma vez que prejudica o ecoturismo, a pesca e a indústria petrolífera.

“Esta plataforma é uma ferramenta valiosa para o combate à bioinvasão no Brasil e um desejo antigo do Projeto Coral-Sol. Há uma tendência cada vez maior no mundo acadêmico de disponibilizar dados científicos e técnicos para auxiliar tomadas de decisão. E mais, o fato da plataforma receber contribuições externas permitirá um maior envolvimento da sociedade no combate às espécies invasoras marinhas, alertando para a importância da conservação marinha. Isto tem tudo a ver com o propósito do BrBio de fazer a ponte entre os pesquisadores e a sociedade em geral”, destaca Simone Oigman-Pszczol, diretora-executiva do BrBio. 

O evento de lançamento conta com a demonstração da plataforma e a exposição Beleza Fatal, que inclui fotografias subaquáticas do Concurso Beleza Fatal, realizado pelo BrBio em parceria com a AbiSub. 

O Projeto Coral-Sol tem apoio de recursos recorrentes do Termo de Compromisso de Ajustamento de Conduta firmado pela Chevron Brasil com o Ministério Público Federal com implementação do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade – FUNBIO.

Sobre o Projeto Coral-Sol:

O Projeto Coral-Sol nasceu em 2006 para enfrentar o crescente problema do coral-sol na costa brasileira. Sua missão é conservar a biodiversidade marinha brasileira através do controle do coral-sol, minimizando os seus impactos ambientais e socioeconômicos, promovendo a recuperação dos ecossistemas marinhos e a sustentabilidade ecológica, econômica e social das regiões afetadas. O Projeto Coral-Sol (PCS) é pioneiro no combate da bioinvasão marinha no Brasil. É realizado em parceria com as universidades, instituições governamentais públicas federais, estaduais, municipais, iniciativas privadas e a sociedade civil, em especial a comunidade da Ilha Grande, na Costa Verde, RJ, região mais afetada pelo problema.

Foto: Edson Faria Jr./BrBio

Inpa lança chamada pública para 48 vagas em Programa de Capacitação Institucional

Estão abertas até o dia 11 de fevereiro as inscrições para o Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTIC), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ao todo, as seis chamadas públicas oferecem 48 vagas.

O valor da bolsa varia de R$ 2.860 (PCI-DD) a R$ 5.200 (PCI-DA), conforme estipulado nas chamadas. A maioria das bolsas é de PCI-DB, no valor de R$ 4.160.

As chamadas tem o objetivo de selecionar especialistas, pesquisadores e técnicos que contribuirão para a execução de projetos de pesquisa no âmbito do PCI (Inpa/MCTIC/CNPQ 2019-2023). O resultado preliminar será divulgado no dia 26 de fevereiro, e o resultado final, dia 01 de março.

Os profissionais selecionados atuarão em seis grandes áreas distintas: 1) Pesquisas em desenvolvimento em sociedade, ambiente e saúde, 2) Pesquisa em biodiversidade e recursos naturais, 3) Pesquisa em tecnologia e inovação, 4) Pesquisa sobre a floresta e os ciclos biogeoquímicos, 5) Padronização das instalações animais do Inpa e 6) Inovação tecnológica.

Para participar do processo, o candidato deverá ler a chamada pública de interesse e conferir as exigências ao cargo e documentação exigida. As propostas deverão ser encaminhadas ao Inpa para o e-mail pci.inscricao@inpa.gov.br, contendo no título da mensagem o termo “Chamada XX/2019 – PCI”, seguido do nome do candidato e a área de atuação escolhida (Ex.: Chamada 01/2019 – PCI – Fulano de Tal – Área 1).

O processo é dirigido no Inpa pela Coordenação de Capacitação Institucional. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones (92) 3643-3103 / 3643-3149 (das 08 às 12h e das 14h às 18h, horário de Manaus) e pelo e-mail: pci.inscricao@inpa.gov.br.

Para ter acesso à Chamada Pública, clique aqui ou acesse no Portal Inpa: Capacitação-Oportunidades e Bolsas-PCI.

LISTA DAS CHAMADAS PÚBLICAS E RESPECTIVAS VAGAS

1. PESQUISAS EM DESENVOLVIMENTO EM SOCIEDADE, AMBIENTE E SAÚDE – 8 vagas

2. PESQUISA EM BIODIVERSIDADE E RECURSOS NATURAIS – 15 vagas

3. PESQUISA EM TECNOLOGIA E INOVAÇÃO – 10 vagas

4. PESQUISA SOBRE A FLORESTA E OS CICLOS BIOGEOQUIMICOS – 10 vagas

5. PADRONIZAÇÃO DAS INSTALAÇÕES ANIMAIS DO INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – 2 vagas

6. INOVAÇÃO TECNOLÓGICA – 3 vagas

Foto: Eduardo Gomes/acervo Inpa

Conservação na Amazônia focada somente em carbono pode desproteger a biodiversidade

Proteger os estoques de carbono nas florestas tropicais, em especial na Amazônia, é um dos principais objetivos de políticas públicas e ações de organizações ambientais em todo o mundo na luta frente às mudanças climáticas. Porém, um estudo publicado no último dia 16 de julho na Nature Climate Change, principal revista sobre o tema no mundo, mostra que a conservação focada somente no carbono pode levar à perda de até 75% da biodiversidade presente nas florestas de maior valor ecológico.

O trabalho, liderado por pesquisadores da Embrapa Amazônia Oriental (PA) e do Centro de Meio Ambiente da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, partiu da seguinte questão: as medidas de proteção ao carbono nas florestas tropicais também garantem a sobrevivência das espécies de plantas e animais nesses locais?

A resposta a essa pergunta é complexa, mas os pesquisadores descobriram que os investimentos destinados a evitar perdas maciças de carbono em florestas tropicais são menos eficazes para a biodiversidade nas florestas de maior valor ecológico. Ou seja, nessas florestas (que são as mais preservadas) a riqueza de espécies da biodiversidade não está protegida quando se considera somente os estoques de carbono.

“Proteger os estoques de carbono das florestas tropicais deve permanecer um objetivo central em políticas de conservação e restauração florestal. No entanto, para garantir a manutenção da riqueza de espécies dessas áreas, a biodiversidade precisa ser tratada também como foco central desses esforços”, alerta a pesquisadora Joice Ferreira, da Embrapa Amazônia Oriental, uma das autoras principais do artigo.

Carbono e biodiversidade

Para chegar às principais conclusões, a equipe passou 18 meses realizando medições do conteúdo de carbono e da variedade de espécies de plantas, pássaros e besouros em 234 áreas nos municípios de Paragominas e Santarém, no Pará, região da Amazônia Oriental. Foram analisados quatro tipos de florestas: primária com pouquíssima ou nenhuma intervenção humana; floresta com extração madeireira; floresta com extração madeireira e queima; e floresta secundária, aquelas que já passaram por intervenções e estão em processo de recuperação.

A equipe descobriu que mais carbono significava mais biodiversidade em florestas severamente danificadas, principalmente naquelas secundárias e as que sofreram a extração da madeira e a queima. Por outro lado, naquelas áreas onde os impactos humanos eram menos intensos, as quantidades crescentes de carbono não eram acompanhadas por mais riqueza de espécies. Na prática, os crescimentos dos estoques de carbono e de biodiversidade caminham juntos nas áreas mais danificadas, mas o mesmo não acontece nas áreas mais preservadas.

Para a pesquisadora Joice Ferreira, a mudança na relação entre carbono e biodiversidade entre as florestas que sofreram diferentes níveis de distúrbios provocados por ação humana explica os resultados encontrados. Conforme as localidades desmatadas e altamente perturbadas se recuperam dos efeitos da exploração e de incêndios florestais graves, a biodiversidade também se recupera. No entanto, essa relação direta entre carbono e biodiversidade perde-se na etapa intermediária da recuperação. O resultado: as florestas com o maior teor de carbono não abrigam necessariamente a maioria das espécies.

“Isso acontece porque nas áreas onde a ação humana é mais intensa, a perturbação é o principal fator que dirige as características das áreas. Então, carbono e biodiversidade se recuperam concomitantemente. No entanto, em uma floresta sem ação humana, por exemplo, os fatores que governam as características das plantas e dos animais são diversos, como o tipo de solo, a luminosidade, as chuvas, a competição entre espécies e outros. Por isso, nesse caso, carbono e biodiversidade não são correspondentes”, explica a especialista.

Foco duplo

As florestas tropicais armazenam mais de um terço de todo o carbono terrestre do mundo. Fenômenos causados por ação humana, como o desmatamento e as perturbações florestais (extração seletiva de madeira, caça, incêndios e fragmentação florestal) podem provocar a liberação do carbono e exacerbar os efeitos do aquecimento global. Por essa razão, a proteção do carbono das florestas tropicais é uma das principais metas das iniciativas internacionais de combate às alterações climáticas, atraindo dezenas de bilhões de dólares em financiamento todos os anos.

“As medidas de proteção aos estoques de carbono não apenas podem desacelerar os efeitos das alterações climáticas, como também têm o potencial de proteger a vida selvagem única e insubstituível das florestas tropicais. Mas para isso é fundamental colocar a biodiversidade no mesmo patamar de importância do carbono”, afirma Gareth Lennox, um dos autores principais do estudo e pesquisador da Universidade de Lancaster.

Toby Gardner, pesquisador do Instituto Ambiental de Estocolmo, na Suécia, e também coautor do artigo, explica a importância de se ter uma abordagem de conservação mais abrangente. “Ao considerar carbono e biodiversidade juntos, descobrimos, por exemplo, que o número de espécies de árvores grandes que podem ser protegidas aumenta em até 15% em relação à abordagem com foco somente no carbono.”

A pesquisa oferece diretrizes para o alinhamento dos esforços de conservação de carbono e biodiversidade, especialmente em ações de restauração florestal. “Os resultados podem orientar o governo na escolha de áreas prioritárias para programas de recuperação de florestas, para a compensação de passivos ambientais”, destaca Joice Ferreira, da Embrapa.

“Embora algumas perdas sejam inevitáveis, os conflitos de estratégia entre o carbono e a biodiversidade podem ser reduzidos por um planejamento mais integrado em nível territorial”, pondera o cientista da Universidade de Lancaster, Jos Barlow, um dos coautores da pesquisa.

Foto: Embrapa/Secom

Pesquisas em biodiversidade e sustentabilidade tem premiações

A Natura, em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), irá premiar dois pesquisadores com prêmios de 25 mil reais, cada, na segunda edição do Prêmio Capes – Natura Campus de Excelência em Pesquisa. Com inscrições abertas até 4 de julho, a premiação tem como objetivo estimular a pesquisa e a produção de artigos científicos de alto impacto acadêmico nas áreas de Sustentabilidade e Biodiversidade.

Nesta segunda edição, serão selecionados trabalhos científicos que tratem dos temas Biodiversidade: Bioconversão de resíduos de cadeia amazônica e Conservação: Prospecção de microrganismos potenciais para bioativos. Com isso, Capes e Natura visam contribuir com o avanço do conhecimento e da inovação em áreas estratégicas.

O presidente da Capes, Abilio Baeta Neves, reconhece a importância de homenagear trabalhos oriundos da pós-graduação, já que estes são um dos principais responsáveis pelos avanços na produção científica do país. “Produções de excelência recompensam o trabalho da Capes e de toda a pós-graduação brasileira”, afirma.

“Na Natura, enxergamos a sustentabilidade como motor de inovação e acreditamos ser essencial que as empresas estejam cada vez mais conectadas com o mundo acadêmico, fonte de pesquisa científica com potencial de criação de tecnologias disruptivas. Nesta segunda edição do Prêmio Capes – Natura Campus, estão em pauta dois desafios contemporâneos importantes: agregar valor aos resíduos nas cadeias de ingredientes da biodiversidade Amazônica e obtenção de novos ativos via biotecnologia”, afirma Daniel Gonzaga, diretor de Inovação e Desenvolvimento de Produtos da Natura.

Além do valor em dinheiro de 25 mil reais, cada um dos premiados receberá passagem aérea e diária para comparecerem à cerimônia de premiação, além de obtenção de certificado para os autores premiados e para o programa de pós-graduação e pesquisa de onde se originou o artigo premiado.

Podem concorrer ao prêmio trabalhos individuais ou em coautoria de portadores do título de mestre ou doutor ou matriculados em programas de mestrado ou doutorado, vinculados a uma instituição de pós-graduação e pesquisa reconhecidos pelo Ministério da Educação. Os artigos devem ter sido publicados em periódico científico de alto impacto a partir de 2016 até a data de encerramento das inscrições. Os interessados devem se inscrever exclusivamente pelo site http://pcn.capes.gov.br.

Foto meramente ilustrativa: Luciete Pedrosa/Ascom-Inpa