Por César Augusto*
A pandemia do novo coronavírus veio reforçar o alerta quanto aos danos que pessoas doentes podem ter agravados por conta do tabagismo. Isso decorre por conta da irritação provocada pelas substâncias presentes no cigarro. “Elas afetam a pele que reveste a região da faringe e laringe, provocando um processo inflamatório crônico”, explica o otorrinolaringologista Cícero Matsuyama, do Hospital CEMA, de São Paulo.
Os danos à garganta podem comprometer a fala, causar alterações de deglutição e motricidade de toda essa região anatômica, e isso inclui não somente o cigarro, mas também o charuto, cachimbo, narguilé e similares. O processo irritativo pode ainda favorecer o aparecimento da Covid-19, tendo em vista que o fumante passa por diversos processos inflamatórios no aparelho respiratório e pode, ainda, desenvolver quadros mais graves. “A infecção pelo vírus SARS-COV2 é basicamente devido a dois princípios, a de uma pneumonia viral que pode ocasionar uma pneumonia bacteriana secundária gravíssima; e uma vasculite que pode atingir tanto vasos de pequeno calibre como de grande calibre, daí o perigo de tromboses e embolias”, explica Matsuyama. “A pessoa tabagista já possui lesões inflamatórias pulmonares, então é fácil entender que com um processo de pneumonia, seja viral ou bacteriana, associada a uma vasculite, o risco de evolução para complicações graves é evidente e frequente”, acrescenta.
Entre os diversos tipos de produtos da indústria tabagista, o grau de risco chega a ser relativo. Segundo Murayama, o cigarro comum tem inúmeras substâncias cancerígenas em sua constituição, por isso a preocupação para doenças mais graves. “Mas, o fumo utilizado no narguilé, cachimbo e outros por vezes tem constituição desconhecida, que pode variar de acordo com a origem da sua produção, ficando difícil uma padronização para possíveis avaliações científicas do perigo da aquisição de doenças originadas nestes diferentes tipos de tabagismo”, afirma.
Apesar da queda apontada no número de fumantes no país – 46% entre 1989 e 2010, segundo o Ministério da Saúde – com papel importante das campanhas de conscientização sobre os efeitos nocivos do tabagismo, principalmente o Dia Mundial de Combate ao Cigarro, em 31 de maio, a continuidade desse trabalho é imprescindível. Entretanto, há uma falsa impressão de que o tabagismo está em queda ou em desuso pela população em geral. Conforme o otorrinolaringologista, uma das razões talvez seja o convívio das pessoas com tabagistas, principalmente no momento de descontração, de lazer e relaxamento, e principalmente por causa do negacionismo das pessoas por nunca admitirem que elas potencialmente podem ser vítimas de patologias oriundas do ato de fumar.
“O tabagismo é um ato que acompanha a civilização humana há centenas de anos, e seria muito inocente pensar que campanhas antitabagistas seriam eficazes somente com 30 a 40 anos na mídia escrita ou eletrônica”, declara. Para ele, a eficiência dessas medidas deveria ser diária, vinculada nas várias formas de mídia, com orientação rigorosa nas escolas, tanto em cursos do ensino fundamental, médio e superior como nos canais de tv aberta ou nas emissoras de rádios, em uma luta constante e persistente.
A frequência tem um papel importante no desenvolvimento de doenças mais graves causadas pelo cigarro. “Quanto mais se fuma, maiores as chances de que a pessoa tenha enfermidades, como tumores na garganta”, detalha o especialista do CEMA.
Atualmente, o total de adultos fumantes no Brasil fica em torno de 12,6%, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). “A luta contra o tabagismo é feita há décadas. Houve muito progresso, mas tenho notado um crescente aumento do hábito de fumar em pessoas mais jovens. Então fica a mensagem que as leis são importantes, mas as orientações sobre os malefícios do tabagismo devem ser constantes. Só dessa forma conseguiremos diminuir um hábito tão agressivo ao corpo humano”, resume Matsuyama.
“Estudos demonstram que quanto mais se fuma, maiores as chances de complicações decorrentes do tabagismo, porém o que se tem observado é que existe uma predisposição importante pessoal na aquisição destas complicações”, atesta o médico. “Então, observamos pessoas que fumaram durante a vida, com uma frequência muito grande, apresentando tumores em todo trato respiratório ou enfisemas pulmonares, mas também em pessoas com doenças graves que fumaram somente em momentos de lazer ou passivos, é lógico numa frequência bem menor, mas ela não é totalmente nula”.
Foto principal: Rogério Uchôa / Agência Pará
Foto do médico: Divulgação
*com matéria da assessoria de comunicação